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Telemóveis e internet como factores de risco de solidão nos jovens

A tecnologia beneficiou muito a humanidade e o avanço do conhecimento no mundo. Estamos numa fase de transição, crescimento e expansão do conhecimento como nunca antes visto e estamos no mundo mais evoluído e ligado que alguma vez existiu.

No entanto, o sociólogo e filósofo polaco Zygmunt Bauman diz-nos que “a geração mais tecnologicamente equipada da história humana é aquela mais assombrada por sentimentos de insegurança e desamparo” e, de facto, os jovens de hoje toleram pouco as frustrações, são pouco consistentes nos comportamentos necessários para objectivos de médio ou longo prazo e são exigentes para os direitos e liberdades do que querem, em detrimento das responsabilidades necessárias de suportar para garantir o que procuram.

Numa década apenas, os sentimentos de solidão nos jovens entre os 15 e 16 anos, dispararam ao nível mundial, e a razão principal que melhor justifica esta realidade é o uso do telemóvel e acesso à internet, num significativo e importante estudo com mais de 1 milhão de jovens em 36 países, entre 2012 e 2018.

Durante este período de tempo, os sentimentos de solidão nas escolas subiu drasticamente e constantemente, tornando-se um factor preditor de depressão e problemas de saúde mental juvenil (este estudo não cobriu o período da pandemia COVID19, o que brevemente novos dados devem vir a público com mais evidências do impacto da pandemia na saúde mental).

Esta tendência e relação entre o uso dos telemóveis e internet com a perda de saúde mental é transversal a vários países, de diferentes culturas e características, o que mostra uma tendência mundial causada pelo uso dos telemóveis e comunicação electrónica. Pelo menos estas são as evidências robustas deste estudo liderado pelo psicólogo Prof Doutor Jean Twenge, da San Diego State University, nos Estados Unidos da América.

Já num estudo prévio deste autor, em 2012, quando o uso dos telemóveis passou a ser usado de forma mais massiva e frequentemente com o acesso à internet e redes sociais, os dados a partir de 2010 sobre a solidão e depressão que estavam estabilizados dispararam nos Estados Unidos da América, Canadá e Reino Unido, com o aumento da solidão, depressão e auto-agressão de forma significativa.

É importante notar, ao contrário da actual tendência generalizada e linear de interpretar tudo num conflito entre a história do passado e presente, entre géneros ou confundir igualdade de oportunidades e de resultados, este estudo com um milhão de jovens em 36 países mostra que a solidão escolar juvenil não está correlacionada com a desigualdade, produtividade ou riqueza ou tamanho da família, mas sim com o uso e aumento da frequência do uso dos smartphones e internet. Foi a partir de 2012 que a esmagadora maioria dos países passaram a ter mais de 50% dos seus jovens com telemóveis com ligação à internet, estando o tempo ligado correlacionado com o aumento da solidão, e consequentemente com o cyberbullying.

Enquanto que a solidão teve um aumento consistente entre o espectro político e económico, com poucas diferenças entre culturas, sendo que apenas a Coreia do Sul foi o único país em 37 que não teve diferenças significativas, talvez porque o uso de telemóveis já era parte frequente da cultura, segundo os autores do estudo. Estamos num mundo em constante transição, umas partes mais avançadas que outras, mas o que é certo é que

Importa, no entanto, perceber que solidão não é doença, pelo que significa que é um problema de saúde pública, mas um sinal de vulnerabilidade que pode facilitar a doença mental, como a depressão ou comportamentos auto-lesivos.

A tecnologia é e será cada vez mais parte integrante da nossa vida e é inevitável aceitar que o mundo será cada vez mais ligado. No entanto, com todas as oportunidades e ganhos que o mundo ligado nos dá, gerir os riscos e as vulnerabilidades é o que compete aos pais ou figuras parentais, educadores, escolas e autoridades, pelo que tendo acesso aos dados da evidência científica e não agindo de forma proactiva e construtiva, seremos sempre mais irresponsáveis e mais vítimas das circunstâncias que a vida nos coloca. Porque tudo o que não se prevê por opção, apenas levará à reacção. Precisamos estimular os jovens para as relações interpessoais reais, com liberdade de expressão, para que assumam a sua individualidade dentro dos grupos e sociedade, aceitando as diferenças e sabendo conviver com as referências comuns que nos permitem viver juntos, com segurança, numa estrutura social democrática.

Ivandro Soares Monteiro

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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