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Ruy Affonso: artista múltiplo

Por quase seis décadas, Ruy Affonso, que dentre tantos méritos foi um dos fundadores do Teatro Brasileiro de Comédia e o criador dos Jograis de São Paulo, deixou marca definitiva em nosso cenário artístico, não apenas como ator, mas também escritor, diretor e professor.

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, onde cursou também Filosofia, seu aprendizado teatral deu-se com a colaboração de destacados diretores estrangeiros que vieram ao Brasil na primeira metade do século XX, como Adolfo Celi, Luciano Salce e Ziembinski.  Teve ainda o privilégio de ser orientado por Verá Korène Rognoni, da Comédie Française e pelo mímico Marcel Marceau.

Em 1955 criou os Jograis de São Paulo, conjunto formado por quatro atores, pelo qual passaram, em suas diversas formações, nomes como Rubens de Falco, Armando Bogus, Raul Cortez, Ítalo Rossi, Carlos Vergueiro, Homero Kosac e Fúlvio Stefanini, apresentando poesia, seja através de coral ou solos encadeados. Com o grupo excursionou por todo Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e México.

Professor de Dicção e Interpretação, ministrou cursos em mais de uma dezena de instituições brasileiras, como Universidade de São Paulo, Universidade de Campinas, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Fundação Armando Álvares Penteado.

Na condição de conferencista, passou pela New York University, Università di Roma, Universidade de Coimbra e Universidad Autonoma de Mexico, sempre difundindo a cultura luso-brasileira.

Autor de oito livros de poesia, Rumo Enxuto (1950), Cinco Canções para Elizabeth (1975), Epigramas (1959), Romance da Rosa (1962), Sombra e Vento (1966), Contraponto Paulistano (1969) e Cancioneiro de um Jogral de São Paulo(1985), que reúne os anteriores, despertou significativo interesse da crítica. Sobre Rumo Enxuto afirmou Miguel Torga tratar-se de “autêntica poesia”.Cecília Meireles, ao referir-se a Cinco Canções para Elizabeth disse: ” Eu que conheço Elizabeth, sei que ela merece. Mesmo assim fiquei com muita inveja dela: nunca ninguém escreveu Cinco Canções para Cecília…meus parabéns a você, Ruy Affonso, e todo meu carinho para sua musa”. Péricles Eugênio da Silva Ramos destacou a “concisão lapidar ” de Epigramas. Para Guilherme de Almeida “Romance da Rosa é dos poemas mais belos já surgidos em nossa língua”. Manuel Bandeira viu em Sombra e Vento “um coroamento poético, laboriosamente conquistado”. Almada Negreiros, enfático, disse: “Deslumbrei-me com o Contraponto Paulistano, com ele Ruy Affonso levou-me às mesmas paragens que me haviam levado a Ode Marítima do Fernando Pessoa e o Coup de Dès do Mallarmé.” E Cassiano Ricardo, a respeito de Burlas Burlescas, destacou  “sua agilidade de espírito, seus ritmos, seus efeitos e todo seu artefazer levam o leitor a um paroxismo lúdico.”

Por muitos anos foi colaborador do Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, tendo publicado ainda o ensaio Padronização da Prosódia Brasileira, pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1958.

Atuando ou dirigindo, esteve presente em dezenas de importantes montagens como O Mentiroso, de Goldoni, Ralé, de Gorki, Amadeus, de Peter Shaffer, O Santo Milagroso, de Lauro César Muniz, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto e As Bocas Inúteis, de Simone de Beauvoir. Na Companhia Vera Cruz foi dirigido por Luciano Salce em Uma Pulga na Balança.

Integrando os Jograis de São Paulo ou sozinho, gravou doze discos, o primeiro intitulado Moderna Poesia Brasileira, em 1956 e o último, Ruy Affonso diz Ruy Affonso, em 2000, comemorando seus 80 anos.

Em plena atividade até o final da vida, a revista Cult publicou seu último trabalho, sobre o amigo Pedro Nava, em junho de 2003, dias depois de seu falecimento.

Angelo Mendes Corrêa

Sobre o autor: Angelo Mendes Corrêa é doutor em Artes pela Universidade estadual Paulista (UNESP), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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