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O combate vital à ideologia de extrema-direita

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O Conselho da Europa debateu recentemente um relatório da maior importância para a saúde das nossas democracias. Ele põe em evidência os perigos da extrema-direita e do populismo que lhe é inerente, que através da sua ação procura minar a estabilidade das nações, a força e coesão da União Europeia e os valores humanistas que fazem parte do nosso património comum e nos distinguem das outras regiões do globo.

A influência dos movimentos e partidos de extrema-direita tem vindo a crescer ao mesmo tempo que a influência e sofisticação da Internet e das redes sociais no mundo digital. É através destes canais que os cidadãos são inundados com desinformação, fake news, manipulação e radicalização.

A realidade é que as nossas sociedades estão mais polarizadas do que nunca, porque as plataformas digitais amplificam sentimentos negativos como a revolta e a ansiedade, alimentados pelos movimentos extremistas, num fluxo circular de energias destrutivas, prejudicando seriamente a capacidade para o diálogo político e a cooperação, como forma perversa e desonesta de abrir o caminho para o poder.

A consequência de uma maior influência destes movimentos populistas e extremistas ganhou dimensão de catástrofe com o “Brexit”, resultado de uma retórica política baseada em falsidades e pela manipulação dos perfis de milhões de eleitores no Facebook. Tal como o surpreendente assalto ao coração da democracia nos Estados Unidos e no Brasil, quase como se tudo o que estava a acontecer se inscrevesse num registo de normalidade, ambos ajudados de forma decisiva por máquinas poderosas com capacidade de enviar muitos milhões de mensagens personalizadas através das redes sociais.

Tal como nos regimes totalitários, os extremistas transformam os adversários em inimigos, para melhor arrastarem as pessoas para a sua propaganda. E os seus inimigos são as instituições democráticas, a União Europeia, os movimentos políticos de esquerda, os migrantes, os ciganos e outras minorias. Eles pretendem um nacionalismo e uma pureza de identidade impossível num mundo cheio de colonizadores e colonizados e composto desde sempre por fluxos migratórios. Eles incitam ao racismo e à xenofobia e legitimam os racistas, os xenófobos e o discurso de ódio, destruindo assim o significado de humanismo e de solidariedade.

Eles são uma ameaça para o projeto da União Europeia, construído para rejeitar o confronto de nacionalismos e de identidades, promovendo em vez disso o diálogo e a cooperação. Muitas decisões na União Europeia são por eles bloqueadas, com consequências dramáticas ao nível das migrações, impedindo que sejam salvas vidas no Mediterrâneo.

Os movimentos extremistas eram, ou ainda são, muitas vezes financiados pela Rússia, responsável pela inaceitável violação da Carta das Nações Unidas e por todos os tipos de crimes de guerra na Ucrânia. Mas não nos podemos deixar enganar. Apesar de estarem a fazer tudo para parecerem respeitáveis e aceitáveis, é preciso não esquecer que a sua inspiração vem das ideologias fascistas e autoritárias.

Em Portugal, a extrema-direita alinha pela mesma cartilha e coreografia dos seus congéneres europeus e de outras paragens. E não se pode permitir uma normalização de ações que são absolutamente inaceitáveis em democracia, como as proclamações para fundar uma nova república, a rejeição da autoridade do presidente do Parlamento, o cerco a partidos políticos, a provocação que os seus parlamentares fazem misturando-se em manifestações organizadas por partidos de esquerda ou o facto de os seus estatutos internos serem antidemocráticos, como afirmou o Tribunal Constitucional.

O problema é transversal a toda a Europa, como se estivesse em acelerada erosão a memória das guerras, dos totalitarismos, dos fascismos, dos autoritarismos. As democracias e as sociedades tolerantes, inclusivas e pluralistas estão sob violento ataque. E é por isso que, se queremos impedir a degradação progressiva das nossas democracias, é preciso lutar com toda a determinação contra a ideologia de extrema-direita.

Paulo Pisco, deputado

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