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O 25 de Abril na memória dos estrangeiros

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Histórias e memórias de ativistas e revolucionários estrangeiros que presenciaram o 25 de Abril e o pós-revolução em Portugal, em 1974, são o centro da nova criação do Teatro do Vestido, que se estreia no domingo, em Lisboa.

“Revolution junkies – Estrangeiros na Revolução portuguesa” é o título do “espectáculo em percurso” a realizar na Biblioteca de Marvila, em que o público pode acompanhar, “em detalhe, algumas das histórias e memórias de cidadãos estrangeiros que estiveram na Revolução Portuguesa e no processo revolucionário que lhe sucedeu”, disse hoje à agência Lusa a diretora artística do Teatro do Vestido, Joana Craveiro.

Com texto e direção da atriz e encenadora, “Revolution junkies” é uma criação conjunta com Estêvão Antunes, Francisco Madureira, Inês Rosado e Joana Craveiro, que também a interpretam.

A presença de ativistas, revolucionários, militantes políticos ou apenas curiosos em Portugal na Revolução e no pós-25 de Abril de 1974, a forma como a viveram, as memórias com que ficaram e o modo como inscreveram essas memórias estão na base do novo projeto do coletivo teatral de Lisboa, com mais de vinte anos de trabalho na área do teatro documental e da inscrição de memória histórica.

A presença de cidadãos que vieram sozinhos e a vinda de alguns grupos organizados para Portugal na sequência da Revolução dos Cravos, que completa 49 anos na terça-feira, dão também mote à peça, assim como a duração dessa presença, por pouco tempo ou por períodos mais prolongados, e as diferentes formas como essas histórias foram inscritas nas memórias de cada um, na sua própria história, através de diários, da escrita de livros ou registos fotográficos.

Para este trabalho, Joana Craveiro escolheu algumas dessas histórias colecionadas pela companhia, vindas de de cidadãos ingleses, norte-americanos, alemães e franceses.

É o caso do despacho de um jornalista e documentarista norte-americano para a estação de rádio KPFA, em Berkeley (Califórnia), enviado em 1975: “Mas o que está a acontecer em Portugal agora não é um caos; é uma revolução e as revoluções têm as suas próprias leis”.

Dos depoimentos integrados em “Revolution junkies” que Joana Craveiro destacou à Lusa, encontra-se o de um amigo inglês, que na altura pertencia ao grupo International Socialists. “Além de ser um grande investigador da memória, está sempre a recolher memórias e entrevistas de pessoas”.

O espetáculo, tal como a companhia, tem também a preocupação de saber e mostrar a forma utilizada por cada elemento para inscrever a memória da “revolução ao fundo da rua” ou a “da Cuba da Europa”, que vão desde a recolha de objetos, testemunhos, diários à escrita de livros.

Construído para habitar a Biblioteca de Marvila, de 23 a 25 de abril, com três récitas, sempre às 21:00, “Revolution junkies” é também baseado nos objetos documentais que dão conta do processo revolucionário pós-25 de Abril.

É o caso do filme português “Torre Bela”, um documentário de longa-metragem realizado pelo alemão Thomas Harlan, estreado em 1975, numa coprodução entre Portugal, Itália e a então República Federal da Alemanha. 

“Scenes from the class struggle in Portugal” (“Cenas da luta de classes em Portugal”), de Robert Kramer e Philip Spinelli, as intervenções do realizador brasileiro Glauber Rocha em “As armas e o povo”, um filme do Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, entre outros, cujo acervo está “documentado de forma magistral por Sergio Tréfaut” em “Outro país”, serviam também de base ara a nova criação teatral, indicou Joana Craveiro à Lusa.

Para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos, o Teatro do Vestido irá repor, em 2024, “Um museu vivo de memórias pequenas e esquecidas”, um espectáculo-reconstituição de Joana Craveiro assente na compilação de sete palestras performativas sobre o Estado Novo, a Revolução e o Processo Revolucionário Em Curso (PREC), resulta de uma aturada investigação histórica e política – mas também afetiva – sobre memórias, narrativas e imagens dos últimos 89 anos da História de Portugal, a partir da ditadura militar que deu origem ao Estado Novo. 

A representar em Lisboa e em digressão por outras cidades portuguesas, Joana Craveiro adiantou ainda à Lusa que a companhia está também a preparar um espetáculo específico para o município da Vidigueira.

“A revolução passou por aqui” é o título da criação que irá basear-se nos acontecimentos ocorridos naquele concelho do distrito de Beja, na região do Baixo Alentejo.

Integrada no espectáculo “Revolution junkies”, o Teatro do Vestido põe também a “habitar” a Biblioteca de Marvila, durante três noites, a mostra “Quase 50 anos”, com materiais do “Arquivo vivo de memórias pequenas e esquecidas”

Com uma capacidade máxima para 45 pessoas, “Revolution junkies” tem espaço sonoro e música original de Francisco Madureira, cenografia de Carla Martínez e figurinos de Tânia Guerreiro. Na assistência está Joana Marques Brás e, na iluminação, Leocádia Silva assistida por Rodrigo Lourenço.

A companhia Teatro do Vestido continua há anos a aguardar um espaço físico cedido pela Câmara de Lisboa, em Marvila, onde possa instalar o arquivo histórico reunido ao longo dos anos, disponibliando-o também para consulta à comunidade.

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