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Festa da Liberdade em Frankfurt: “pelos valores de Abril”

O Grupo de Reflexão e Integração da Diáspora Portuguesa na Alemanha (GRI-DPA e.V) organizou a 27 de abril um evento intitulado „Festa da Liberdade – 50 anos da Revolução dos Cravos“, nas instalações da Produktionshaus NAXOS, em Frankfurt-am-Main.

Os oradores foram o Embaixador de Portugal, Ribeiro de Meneses, o cônsul Leandro Amado, o deputado Paulo Pisco, o Presidente da Câmara de Frankfurt Mike Josef, o representante da Associação 25 de Abril, coronel António Delgado Fonseca e Teresa Pinheiro da Universidade de Chemnitz.

O presidente do GRI-DPA, Alfredo Stoffel, afirmou que “volvidos 50 anos resta-nos a certeza de que não fizemos o país que achámos urgente fazer […] hoje os valores de Abril são postos em causa e a história dos 48 anos de salazarismo / marcelismo com a sua matriz fascista está a ser relativizada, banalizada e branqueada“. Stoffel referia-se ao facto de nas últimas eleições para a Assembleia da República “o eleitorado ter escolhido 50 deputados da extrema-direita, deputados de um partido populista, xenófobo e que não se inibe de querer branquear o periodo do Estado Novo”.

Na sua intervenção o Embaixador de Portugal citou Sophia de Mello Breyner e, em seguida, agradeceu aos militares de Abril, “aqueles que, com coragem e visão patriótica lograram soltar amarras e derrubar paredes”. Ribeiro de Meneses falou de uma dívida de gratidão “para com os militares que tudo arriscaram, os Capitães de Abril, para com as pessoas que saíram à rua para os apoiar, e para os que tanto deram e sofreram ao longo de décadas, em nome dos ideais que ainda agora nos movem”. 

Durante a sua intervenção, o Embaixador de Portugal falou igualmente na influência que a revolução de Abril teve na “transição democrática” em muitos países dentro e fora da Europa, e recordou que, em 1973, em Bad-Münstereifer, com a ajuda do SPD e da Fundação Friedrich Ebert, um grupo de portugueses fundou o Partido Socialista. 

O coronel António Delgado Fonseca agradeceu aos muitos jovens a sua presença e diz que “foi para eles que o 25 de Abril foi feito”. Depois de explicar o seu papel na revolução, o coronel fez um resumo do que era Portugal em 24 de Abril, “as suas gentes pobres e iletradas, o sistema de saúde inexistente onde a mortalidade infantil era das maiores do mundo ocidental, o atraso crónico que se vivia e da guerra colonial”. Com o 25 de Abril “abriu-se caminho para as chamadas conquistas democráticas” que elencou, do fim da polícia política, à liberdade de associação sindical, passando pela criação do salário mínimo nacional e à criação do Serviço Nacional de Saúde.

Mike Josef, Presidente da Câmara de Frankfurt destacou o facto de o 25 de Abril estar a ser celebrado “numa cidade que foi o berço da democracia na Alemanha, pois foi em Frankfurt que a Constituição da Paulskirche foi aprovada, há 175 anos”, recordou.

No seu discurso o autarca fez uma ponte histórica e comparativa entre o movimento da Paulskirche e a Revolução dos Cravos. “Ousar mais Democracia foi uma das palavras de ordem de Willy Brandt e este deve ser o guião para as novas gerações continuarem a viver numa sociedade democrática”, defendeu. Para Josef, dizer não ao racismo à xenofobia e à discriminação “deve ser uma das pedras basilares no contexto democrático do período que a sociedade alemã vive”.

Fazendo referência aos muitos “Gastarbeiter” (trabalhadores-convidados, expressão alemã que designa os imigrantes) que criaram raízes e se integraram em Frankfurt, o presidente deixa claro que defenderá “a democracia e os direitos humanos contra os agitadores de direita tal como o faremos contra os terroristas de direita”. 

Mike Josef fez apelo à participação cívica e ao voto para o Parlamento Europeu. Segundo ele temos todos uma responsabilidade para com o projeto europeu: “a Europa não é irrelevante, é o nosso futuro, o projeto de paz mais bem sucedido do mundo e, acima de tudo a Europa democrática está em perigo. “Vamos defendê-la! Está nas nossas mãos, 50 anos após a revolta de um país corajoso, que é agora uma parte tão natural da nossa comunidade europeia”. 

Teresa Pinheiro falou no seu discurso da “primeira geração que não viveu a ditadura”, e considerou que 50 anos depois é chegado o momento de “fazer uma pausa e olhar para trás: o que é que conseguimos nestes 50 anos? E sobretudo: será que alcançámos o que queríamos? Quais são os grandes desafios do presente para construir o futuro?”.

“Portugal sofreu uma transformação nestes 50 anos que é motivo de orgulho e satisfação. Os desafios do presente são os desafios do futuro. São grandes, não o nego. Mas Portugal está em condições de os enfrentar”, considera a professora da Universidade de Chemnitz. 

“No meu discurso de encerramento deixei claro que sem a presença do público nada do que fizemos faria sentido”, disse Alfredo Stoffel ao BOM DIA. “Os oradores e o público amigo comungam connosco os valores de Abril e é bom sabermos que não estamos sozinhos na preservação desta memória coletiva”, salientou o dirigente do GRI-DPA, estrutura responsável pelo evento.

Stoffel crê que os ideais de Abril, “o conceito de liberdade, de altruismo, de fraternidade, de fazermos um mundo melhor, continuam presentes em nós!”, recordando que “a célebre frase ‘Portugal deu novos mundos ao Mundo’ só foi concretizada com a descolonização. Com o 25 de Abril pôs-se termo à guerra colonial e os territórios ultramarinos ganharam a sua independência”.

Para o presidente do GRI-DPA, fizeram-se erros, mas “a Revolução foi feita por “homens de carne e osso” e não é conhecido que eles sejam infalíveis… Por isso continuo a dizer que a minha geração não soube fazer o país que achámos urgente fazer; continua a haver precariedade, grandes desequilíbrios sociais e económicos que levam a que correntes políticas da extrema-direita populista e xenófoba tenham grande aceitação no quadro político e social”. E Stoffel deixou um apelo: “não devemos aceitar o branqueamento da era salazarista / marcelista.

Unidos devemos dizes ‘não’ a estas tendências que querem branquear a história”, concluiu, não sem antes insistir para deixar “um especial agradecimento a todos os que nos bastidores tornaram este evento um sucesso: Manuel e Ricardo Campos, a NAXOS, as professoras e os alunos e alunas da Escola Europeia de Frankfurt que nos proporcionaram momentos de boa literaura (Hatherly, Ary dos Santos, Sophia de Mello Breyner, Manuel Alegre, David Mourão Ferreira, Jorge de Sena, Miguel Torga), ao Grupo Coral Heinrich-Heine que entre as muitas canções cantou a ‘Grândola Vila Morena’ com o mesmo sentimento dos portugueses e ao nosso bardo, Manuel Campos, que tão bem soube cantar as muitas canções do período da revolução e que com a ‘Cantata da Paz’ emocionou todos os presentes”.

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