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Nova visão: a cultura no painel do investimento

© Ricardo Silva / BOM DIA

No passado dia 28 de Outubro, no Portugal + Bruxelas, deu-se uma acontecimento curioso. Dei por mim, na qualidade de cineasta, inserido num painel que orbitava à volta dos temas do investimento e dos negócios. Se numa primeira análise parecia estar fora de contexto, certo é que, rapidamente me apercebi não. Pouco é mais urgente discutir do que a cultura do homem de negócios, sobre o pensamento, a forma de agir e decidir resultante da convivência no mundo da cultura (ou veneração) do lucro. Percebi que neste painel havia um espaço lógico e necessário na análise às características de uma população que encaminha o mundo enquanto vive mediante uma cultura própria, a do mundo empresarial. Que cultura é esta? O que considera ela? O que ignora?

Proponho-me a reflectir sobre os pontos de conexão entre estes dois mundos, uma esfera de cada vez. Hoje quero falar-vos de algo a que dou o nome de ACTIVOS CULTURAIS DA ECONOMIA.

O que define este conceito? Os activos culturais da economia são alicerces definidores do valor do produto, mercadoria ou serviço, que não estão diretamente ligados às qualidades do produto em si.

A consciência maior acerca destes activos servirá para criar a consciência nos indivíduos que fazem negócio, de que estão capitalizar um activo pluralmente construído, que deve ser protegido não só porque é bom para o negócio, mas também porque, neste caso, sempre que estes activos culturais da economia se desenvolvem e crescem, cresce também o nível civilizacional da sociedade e a qualidade relacional entre os Homens.

Tentemos entender a importância dos activos culturais da economia: 

Consideremos que eu sou o orgulhoso proprietário de um imóvel, o qual beneficia de uma área bruta privativa de duzentos metros quadrados, se encontra equipado com a melhor tecnologia, evidencia a qualidade de construção nos seus materiais e acabamentos. É invariavelmente um activo. Quanto vale este imóvel? O seu valor talvez seja uma questão diferente, a pergunta mais acertada será talvez… Quanto custa?

Nenhum de vós, por mais entendido que seja no ramo imobiliário, me saberá dizer o preço deste imóvel. A pergunta obrigatória será sempre, onde se localiza? Esta reflexão não serve para aprofundar o tema do ramo imobiliário, daqui apenas quero retirar uma conclusão que clarifica o valor do activo cultural a que me refiro. Coloquem este imóvel em Lisboa e o mesmo será avaliado em algo aproximado a um milhão de Euros. Desafio-vos a colocar este imóvel na Ucrânia, em Odessa, por exemplo, qual o preço adequado para que o negócio se concretize?

Acredito que tal como eu, concluem que a paz é um activo cultural da economia, sem ele, tanto o valor quanto o preço dos produtos passíveis de ser transacionáveis, reduz-se irremediavelmente.

Portugal tem uma cultura de Paz? O quão enraizada está a essa cultura de paz? Quanto mais enraizada e estabelecida estiver a cultura de paz, mais valor terá tudo o que é economicamente transacionado “em” e “a partir” de Portugal.

Agora pensemos que temos nesse imóvel um maravilhoso piano de cauda, um Bösendorfer, por exemplo. Embora não tão móvel quanto isso, o seu posicionamento não é tão definidor da sua identidade como uma casa. Um piano “está em”, uma casa “é em”, mas, ainda assim, peço-vos que o coloquem também virtualmente na Ucrânia. Qual o impacto do seu local na percepção de valor? Não consigo deixar de recordar uma reportagem, sobre uma cidadã ucraniana que estava a preparar a sua saída do país, e antes de partir, sentou-se no seu piano de cauda para se despedir da casa onde foi feliz. Diante do seu piano estava uma enorme cratera, a qual havia levado a parede da fachada da casa. O piano ficou, poeticamente, naquela ruína, numa tensa antítese de sofisticação e barbárie.

Se é certo que o lucro é o único indicador que o homem de negócios reconhece como forma de medir a viabilidade e interesse do negócio, por detrás desse lucro há um sem número de alicerces que este ignora ou desconsidera. A urgência de discutir este tema é de primeira linha, não só porque esta consciência é satisfatória intelectualmente, mas porque muitas vezes, em prol do lucro, condicionam-se ou promovem-se recuos em desenvolvimentos desejáveis de alguns destes activos culturais.

Continuarei a reflectir sobre quais são os Activos culturais da Economia, tentarei promover a consciência em prol da sua proteção e promoção, e como homem da cultura no mundo da reverência ao lucro, espero fazer compreender que o progresso está condicionado na medida do desprezo com que se analisa a relevância da cultura na sociedade.

Francisco Lobo Faria

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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