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“Exílios no feminino – sete percursos de luta e de esperança”

“Exílios no feminino – sete percursos de luta e de esperança” é a narrativa de sete mulheres que se propuseram contar a sua história e as experiências pessoais e coletivas quando há mais de 50 anos atravessaram as fronteiras para fugirem de um país que lhe roubava os sonhos, mas sobretudo, obrigava as mulheres deste tempo a viverem debaixo de sentimentos de medo e de discriminação, num regime absolutamente patriarcal.  Ao longo do livro as autoras contam as suas histórias numa abordagem feminina, permitindo olhar para o papel da mulher, as suas lutas e as suas dificuldades no contexto sociocultural da época. Estas sete narrativas não abarcam apenas a história coletiva da mulher, vai muito mais além, pretende desvendar a força das mulheres, a sua luta para a libertação no que diz respeito aos estereótipos e sobretudo à liberdade sobre as decisões fundamentais das suas vidas e do seu próprio corpo, tanto do ponto de vista individual e íntimo, como do ponto de vista social e coletivo. Abordagens que permitem focar-se no percurso da mulher em Portugal, nestes últimos anos, na esfera pública e privada. 

“Assim, o livro Exílios no feminino, que conta a história de sete mulheres que atravessaram o século XX, viveram no período da ditadura salazarista, participaram da Revolução dos Cravos e chegam até aos dias de hoje, fundamental para ampliar o contexto da mulher na história. Estes relatos são contados por mulheres e exprimem a forma como elas sentiram e viveram a emigração, a descriminação sexual, o aborto e a construção de uma vida na idade adulta perante todas as adversidades encontradas nos seus caminhos individuais. p. 15”. Afirma Cristina Rodrigues na nota introdutória. 

Neste sentido, as sete autoras relatam a suas experiências e os seus percursos antes de saírem do país, as dificuldades nas viagens que as levaria aos países de exilio, os sentimentos contraditórios, como o sentimento de perda, de não pertença, mas, ao mesmo tempo, de liberdade e empoderamento. 

A escritora e ensaísta francesa, Helene Cixous escreveu na sua obra “Entre l’écriture de femmes” (1986, “Escrever: para não deixar espaço aos mortos, para afastar o esquecimento, para nunca se deixar surpreender pelo abismo. Nunca resignar.” (..) É precisa que a mulher escreva, que a mulher escreva sobre a mulher e faça vir as mulheres à escritura (…) pelas mesmas razões, pela mesma lei, pela mesma finalidade mortal. É preciso que a mulher se submeta ao texto como ao mundo e à história do seu próprio movimento.” 

É esta a importância deste livro; mulheres que narram a sua experiência migratória e de exílio, imprimindo no discurso e na linguagem toda a força e subjetividade que caracteriza o olhar feminino sobre o mundo e sobre a evolução da condição da mulher nas sociedades. A mulher que escreve e se inscreve no devir da história. Nem que seja apenas visando deixar um testemunho da pluralidade de experiências sociais e culturais, das lutas que a mulher tem enfrentado ao longo dos séculos, no sentido de se afirmaram como donas das suas vidas, dos seus corpos e das suas vontades. 

Escrever para fazer perdurar e prevalecer a memória das experiências no feminino. “Na busca da linguagem da mudez, porque nada é impossível ou inviável ao nosso imaginário. (…) Daquilo que as mulheres escrevem tentando esquecer, vencer a escuridade, a mordaça e as algemas. De alvoroço em alvoroço”, Escreveu Maria de Teresa Horta, na apresentação de um congresso em 2013 sobre o tema, “A mulher na literatura e nas artes. 

Ler e refletir sobre a obra “Exílios no feminino-sete percurso de luta e de esperança” é também, sentir as dificuldades das mulheres em todos os setores da sociedade: na educação, na política, na economia, na saúde, nas questões de género.  Mas é sobretudo compreender a importância das mulheres nos contextos migratórias, o seu papel de criadoras de oportunidades, da força em criar e ensinar os mais desfavorecidos e em dificuldades numa perspetiva de engajamento e voluntariado junto das comunidades onde viveram. 

“Exílios no feminino – sete percursos de luta e de esperança” de Amélia Resende; Beatriz Abrantes; Fernanda Oliveira Marques; Helena Cabeçadas; Helena Rato; Irene Pimentel; Maria Emília Brederode Santos. Edições Afrontamento 2023

São Gonçalves

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