Rúben Amorim: mais um emigrante de topo do futebol mundial
Rúben Amorim viu confirmada a chegada ao mais importante campeonato futebolístico através dos ingleses do Manchester United, cotado como um dos treinadores da moda, após idealizar a revitalização do Sporting, campeão e líder invicto em Portugal.
Quase seis meses depois de ter comemorado o 20.º título ‘leonino’, e segundo em quatro épocas completas em Alvalade, o ex-médio suprimiu com alguma surpresa o desígnio de continuar a perseguir o primeiro bicampeonato do clube em 70 anos e aceitou suceder ao neerlandês Erik ten Hag no comando do recordista de conquistas da Premier League (20).
Aos 39 anos, Amorim propõe-se a devolver aos patamares de excelência o Manchester United, dos internacionais portugueses Diogo Dalot e Bruno Fernandes, que está na 14.ª posição da Liga inglesa, com 11 pontos, a 12 do tetracampeão e líder Manchester City, e falha o título desde 2012/13, última das 27 épocas sob alçada do escocês Alex Ferguson.
O projeto assumido nos ‘red devils’, que vivem o segundo pior arranque ao fim de nove jornadas numa edição da Premier League, tem traços comuns com a missão enfrentada desde março de 2020, quando abdicou da solidez competitiva do Sporting de Braga para unir as pontas soltas e reerguer um Sporting historicamente talhado para a instabilidade.
Rúben Amorim foi ‘devolvendo com juros’ os 10 milhões de euros (ME) investidos pelos ‘leões’, quantia igual à cláusula de rescisão exercida agora pelo United, que terá despesas totais de 12,7 ME pela aquisição de um técnico com futebol acutilante, fidelidade tática ao ‘3-4-3’ e discurso descomplexado.
A chegada a Alvalade foi encarada com ceticismo por adeptos e imprensa, mas promoveu uma tirada desarmante e auspiciosa em plena apresentação: “As pessoas perguntam: ‘E se corre mal?’. Eu pergunto: ‘E se corre bem?’”, afiançou, com a porta 10A como pano de fundo e perante o olhar do mentor dessa aposta arriscada, o presidente Frederico Varandas.
Por entre duas Taças da Liga (2020/21 e 2021/22) – que também logrou pelo Sporting de Braga (2019/20) – e uma Supertaça Cândido Oliveira (2021), o ex-médio atingiu o auge com os campeonatos de 2020/21, quando quebrou um interregno de 19 anos e numa época sem adeptos nos estádios, devido à pandemia de covid-19, e 2023/24, com recordes de pontuação (90) e vitórias (29) do clube numa edição da I Liga e o melhor ataque desde 1973/74 (96 golos).
A derrota na final da última Taça de Portugal, que podia ter ‘selado’ a primeira ‘dobradinha’ do Sporting em 22 anos, impediu Rúben Filipe Marques Diogo Amorim, nascido em 27 de janeiro de 1985, em Vila Franca de Xira, de completar o palmarés nacional nos bancos e repetir o quarteto de troféus vencidos nos relvados pelo Benfica, entre 2008 e 2015.
O clube da Luz, do qual era adepto desde miúdo, acomodou as suas primeiras etapas no futebol – por entre uma curta aventura no hóquei em patins -, seguindo-se CAC Pontinha, Ginásio de Corroios e Belenenses, através do qual se estreou a nível sénior, em 2003/04.
Duas épocas de afirmação sob alçada de Jorge Jesus motivaram o Benfica a investir um ME na aquisição de Rúben Amorim, em 2008/09, trajeto replicado pelo atual técnico dos sauditas do Al-Hilal no exercício seguinte, com essa dupla a cooperar na conquista de 10 troféus, incluindo três campeonatos (2009/10, 2013/14 e 2014/15), além da final da Liga Europa perdida no desempate por penáltis frente aos espanhóis do Sevilha, em 2013/14.
Brincalhão fora de campo, mas sem descurar fortes convicções nos treinos e jogos, o ex-médio chegou a ter desavenças com Jorge Jesus e foi emprestado ao Sporting de Braga, celebrando uma das seis Taças da Liga do seu currículo como jogador (2012/13), no qual constam 14 jogos pela seleção nacional, que representou nos Mundiais de 2010 e 2014.
O regresso ao Benfica acentuou um histórico de lesões e cirurgias nos joelhos e baixou a sua influência nos relvados, originando uma cedência ao Al-Wakrah (2015/16), do Qatar, antes de longos meses de inatividade e do final da carreira em 2017, então com 32 anos.
Depois de 18 golos em 337 partidas, começou a formar-se como treinador e debutou em 2018/19 pelo Casa Pia, do qual se demitiria ao fim de meio ano, punido pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) por dar indicações em jogos como estagiário – decisão anulada mais tarde pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).
Os ‘gansos’ subiram à II Liga e arrebataram o Campeonato de Portugal, patamar ao qual Amorim voltaria em setembro de 2019 para orientar o Sporting de Braga B até dezembro, altura em que, já com o segundo nível, teve uma sucessão impactante a Ricardo Sá Pinto na equipa principal e persuadiu o Sporting a concretizar o terceiro negócio mais caro de sempre nos bancos – com atrasos nos pagamentos, mais IVA, ascendeu a 14,6 ME.
Inserindo novas nuances no modelo tático de sempre, o sucessor de Jorge Silas foi figura central do sucesso ‘leonino’, ao ser crucial na crescente competitividade do plantel, na abordagem ao mercado, na comunicação ou na rentabilização da formação, ajudando a diluir as críticas à gestão de Frederico Varandas e Hugo Viana, recém-anunciado diretor desportivo do Manchester City, rival citadino do United, com efeitos a partir de 2025/26.
Segundo técnico com mais jogos (228), vitórias (161) e troféus da história do Sporting, foi insistentemente associado ao radar de clubes ingleses antes e depois de se tornar o mais jovem português a conquistar a I Liga por duas vezes nos bancos, imitando a vertiginosa projeção do ídolo José Mourinho, com quem estagiou no emblema de Old Trafford, em 2018.