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Recrutamos líderes conscientes: mudança de paradigma na liderança

Vivemos tempos complexos. O acelerado crescimento tecnológico, a transposição das fronteiras físicas, as crescentes desigualdades, uma sociedade e economia multigeracional, as mudanças no modelo de trabalho, a persistente hipercompetividade e a consequente degradação da saúde, colocam os lideres empresariais perante uma enorme vulnerabilidade para fazer face à intrincada incerteza e profundas mudanças que estamos a presenciar há vários anos. Destes líderes requere-se resiliência, face à volatilidade e incerteza, e consciência de si mesmos e dos desafios do mercado em que operam.

Há mais de uma década que as grandes headhunters procuram executivos com elevada inteligência emocional. Não é por acaso, pois estão melhor preparados para se adaptarem às mudanças exponenciais, às complexas circunstâncias e incertezas. Ou seja, clareza mental, serenidade face aos desafios e resiliência em tempos de incerteza.

Se no passado tivemos uma liderança baseada na especialização técnica e gestão sob comando e controlo numa economia industrial, embora outrora revolucionária, no presente não garante competitividade, compromisso e lealdadade por parte dos colaboradores nem resultados excepcionais. 

A liderança de hoje é diferente da liderança de ontem. Ser lider é guiar e impactar para a concretização de resultados em grupo. Liderança está em Ser, ao contrário de Ter um cargo ou posição. Assiste-se, ainda, muitas pessoas com cargos superiores que prejudicam as empresas em termos de relacionamentos e, consequentemnte, nos seus resultados, em consequência da toxidade gerada pelos seus comportamentos e atitudes. Liderar está em Ser, nas ações que inspiram confiança, transparência, ética e autenticidade. Não na agressividade verbal, no controlo e na manipulação.

Segundo um extenso estudo realizado pela McKinsey, existem cinco comportamentos comuns aos líderes de hoje e do futuro: ser uma pessoa que apoia as suas equipas; opera com forte orientação para os resultados; procura diferentes perspetivas; e tem uma grande capacidade de resolução de problemas. A estas competências, acrescento ética, transparência, autenticidade e autoconhecimento. 

Ciência confirma mudança de paradigma na liderança

Já a extensa experiência da Univesidade de Harvard, em programas de ensino em Liderança e dos muitos estudos qualitativos e quantitativos, aponta o que torna as lideranças bem sucessidas e com impacto nos colaboradores e empregadores. Os líderes com maior grau de sucesso profissional são aqueles que investem no seu desenvolvimento pessoal e espiritual. São aqueles que têm uma maior percepção de Quem São, o que lhes permite encontrar um maior significado e propósito na vida e no trabalho, ser mais felizes e sofrerem menores níveis de stresse. Fatores que permitem uma real transformação e uma melhoria substancial na sua saúde mental e bem-estar. 

O facto é que a liderança direcionada para a gestão e na criação de valor para os shareholders está a perder a relevância e a eficácia perante as mudanças socio-económicas e tecnológicas que estamos a assistir. Se, ao longo de dois séculos, na Era Industrial, permitiu construir verdadeiros impérios empresariais, no século XXI, este tipo de liderança encontra o seu declínio. Múltiplos estudos cientificos e de mercado demonstram que lideranças tóxicas são a principal causa para o aumento significativo de casos de depressão e burnout e múltiplas doenças associadas ao stresse e ansiedade crónicos. Segundo a Gallup, ambientes de trabalho tóxicos estão a custar à economia 11% do PIB Global. Em Portugal esta realidade também está espelhada. A toxicidade que se vive nas empresas portuguesas custa à economia 5,2 mil milhões de euros, de acordo com o mais recente estudo da Ordem dos Psicólogos. Custos elevadíssimos cujos recursos poderiam estar a ser usados para inovação e resolver os reais problemas que enfrentamos enquanto Humanidade.

Perante este complexo ambiente empresarial em que vivemos em pleno século XXI emerge uma nova abordagem de liderança. Mais centrada na humanização das organizações, mais ágil perante as mudanças e as incertezas do mercado e à crescente digitalização e automatização de processos e tarefas. 

Uma mudança de dentro para fora

Um Líder Consciente tem consciência de quem é, das suas competências, responsabilidades, dos seus limites e sabotadores. Um Líder Consciente conhece os seus valores – não os valores incutidos pela sociedade e a família – e age de acordo. Um Líder Consciente age com respeito pelo próximo, com ética e transparência. Um Líder Consciente inspira, motiva e orienta aqueles que estão com ele. Lidera sem liderar. Um Líder Consciente tem consciência do peso da sua responsabilidade. Pára quando é necessário. Escuta e observa ativamente. Não julga. 

Claro que também tem momentos em que sente frustração, raiva, medo, culpa… como qualquer um de nós. Só que um Líder Consciente não descarrega no outro as suas inseguranças, medos, frustrações e ressentimentos. 

Pelo contrário. Um Líder Consciente pratica empatia, compaixão, vulnerabilidade (e, sim, requer muita coragem admitir as suas vulnerabilidades!), gratidão, autoconsciência e auto-cuidado emocional, mental, físico e espiritual. Proporciona suporte e reconhecimento, cria segurança psciológica nas e entre as equipas, promove a colaboração e a resolução de conflitos, estimula a inovação e levanta questões sempre que necessário, mesmo quando são desconfortáveis para ele/ela e a equipa. 

Comportamentos e atitudes que incluem promover uma maior conexão e bem-estar entre todos os colaboradores e a celebração até dos pequenos passos que visam a concretização de resultados maiores. Estes são, inclusive, comportamentos e atitudes que têm demonstrado, empresa após empresa com negócios conscientes (e, não, não são apenas conscientes em termos ambientais. Vão muito além da esfera ambiental), um maior desempenho profissional dos colaboradores, maior resiliência fase aos desafios e resultados exponenciais ao longo do tempo.

O gestor transforma-se no visionário e no executor. O executivo torna-se aquele que inspira confiança e motiva um melhor desempenho. O controlador transforma-se no coach que estimula a melhoria contínua das suas equipas e processos. O chefe torna-se aquele que conecta com o outro, com empatia, autenticidade, gratidão e honestidade. Um Líder Consciente cria valor para todos os stakeholders. 

Esta mudança de paradigma de liderança dá-se pela expansão do nível de consciência de si mesmo e da realidade à sua volta. Lideres que investem no seu autoconhecimento e desenvolvimento pessoal concretizam mudanças na sua vida e nas organizações em que operam. Mudanças que beneficiam a todos, pois tem consciência que não conseguem os resultados pretendidos sem o apoio de todos. Para conseguir esse apoio sabe que se requer a criação de relações autenticas, pois sabe que são elas que permitem superar os momentos de maior turbulência. 

Lideres Conscientes transformam comportamentos e atitudes. Transformam a forma de ser, de estar e de desempenho de equipas. Conduzem organizações para novos níveis de agilidade operacional e processual. Tornam organizações mais humanizadas e levam à criação de valor a partir de uma filosofia organizacional. 

Qual o impacto desta nova abordagem de liderança? Maior eficiência, agilidade, independencia e autoresponsabilidade. Estudos empiricos e a experiência da prática demonstram que, apesar da crescente complexidade, existe uma correlação direta entre liderança consciente e a eficácia operacional e produtividade, satisfação e desempenho dos colaboradores, satisfação e fidelização de clientes, o crescimento do negócio e da profitabilidade, numa economia de stakedolders. 

Sim, estamos a recrutar Líderes Conscientes para maior impacto na sociedade e na economia. E a Liderança Consciente começa em cada um de nós. Na nossa capacidade de perceber quem somos, do que somos capazes, das nossas fragilidades e no impacto que escolhemos Ser na nossa vida pessoal e profissional. 

Sandra I. Pedro

Chief Purpose Officer AMMA Lab

 www.ammastudiolab.com
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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