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Preocupação instala-se junto das comunidades portuguesas em França

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Os motins em várias cidades de França estão a afetar a comunidade portuguesa. Com festas do período antes das férias a serem anuladas e “muita preocupação” entre quem vive perto das zonas onde há mais conflitos.

“Estamos a ficar muito preocupados, até as pessoas mais novas que ajudam aqui na associação estão tristes com isto. Estão desanimados. A festa deste sábado está anulada, partiram tudo esta noite na cidade e não vamos arriscar. Estamos com medo, não vamos arriscar. Vamos fazer a nossa festa quando voltarmos de férias”, disse José Afonso, presidente da Associação Franco-Portuguesa de Puteaux, em declarações à agência Lusa.

Puteaux é uma cidade de 45 mil pessoas junto a Nanterre, nos arredores de Paris, de onde era originário o jovem Nahel de 17 anos que foi morto pela polícia e iniciou a onda de motins em França que dura há três noites consecutivas.

A associação portuguesa tinha preparado para este sábado uma noite de rusgas com vários conjuntos de bombos e ranchos, mas tudo ficou anulado devido à violência que se tem feito sentir nas últimas noites.

“Puteaux é uma cidade calma, mas faz fronteira com Nanterre, e especialmente com o bairro social Pablo Picasso e é mesmo aí que está a nossa associação. Esta noite atearam fogo ao parque de estacionamento aqui ao lado, colada à associação, e ligaram-me às 7:00 da manhã a dizer que as traseiras da associação estavam a arder. Valeram-nos os bombeiros. Temos uma cozinha, com garrafa de gás e se as chamas lá chegassem, ia tudo pelo ar”, descreveu José Afonso.

As festas antes da partida para férias são uma ocasião celebrada tradicionalmente na comunidade portuguesa, especialmente onde se concentram mais portugueses e lusodescendentes, como na região de Paris.

“Em relação à comunidade portuguesa não ouvi nenhuma preocupação específica em Charenton. O que acontece é que mais perto de onde começaram os motins, em Nanterre ou Puteaux, as associações que tinham agora festas de fim de ano agendadas, tiveram de as anular, como consequências dos motins. Claro que é uma pena e espero que possam realizar os seus eventos mais à frente”, declarou João Martins Pereira, conselheiro municipal em Charenton, também junto a Paris.

Entretanto, as autoridades francesas suspenderam a nível nacional todos os festivais, festas abertas ao público e até celebrações do final do ano nas escolas devido aos confrontos. No entanto, noutras cidades nos arredores de Paris, a preocupação ainda não é generalizada.

“Em Nogent-sur-Marne houve alguma agitação, mas nada muito grave. Sei que tem tido mais impacto em cidades como Fontenay-sous-Bois ou Champigny-sur-Marne, ontem ouviam-se muitos disparos fortes. Gostava de dizer que era fogo-de-artifício, mas penso que se tratava de tiros”, relatou Philippe Pereira, vereador da cidade de Nogent-sur Marne, que declarou também não ter ainda sido contactado pela comunidade portuguesa.

Há mais de meio século em França e envolvido na vida cultural da comunidade portuguesa, já que a Associação Franco-Portuguesa de Puteaux conta com aulas de português, mas também um rancho ou aulas de teatro, José Afonso não se lembra de outros episódios tão violentos.

“Em Puteaux, até foram à Polícia Municipal para partir tudo. Depois foram para a câmara municipal para continuar a destruir, mas a polícia já estava lá à espera deles e conseguiu apanhá-los e foram presos. Tinham todos 12, 14 ou 15 anos, muitos vindos de outros sítios aqui à volta”, indicou o dirigente associativo.

“Estou em França há 53 anos e não me lembro de nada assim, há manifestações nos Campos Elísios, de pessoas que trabalham, mas não era nada assim. Com estes jovens, nós nem nos atrevemos a dizer nada, antes era diferente”, acrescentou.

Para Philippe Pereira, estes motins não são surpreendentes, especialmente depois do que se passou em 2005, quando morreram dois jovens eletrocutados enquanto se tentavam esconder da polícia, e se seguiram quase 20 dias de violência nas ruas dos arredores da capital, mas não deixam de ser chocantes.

“Chocam-me em termos de dimensão. Mas não me admira o que está a acontecer. É algo quase tradicional em França quando acontece um grande desastre como este, e é muito comum nos arredores das grandes cidades. Esta é uma reação bastante violenta, talvez pela especificidade do que aconteceu, mas também é um momento em que vivemos uma certa tensão”, indicou o autarca.

A violência policial tem sido um ponto comum destes protestos, com o caso de Nahel a não ter “nenhuma justificação possível”, segundo João Martins Pereira.

“A verdade é que nos últimos anos houve uma acumulação de casos e já se falava muito da raiva contra o sistema, porque a ideia não é dizer que todos os polícias são maus, mas é um problema sistemático da formação dos polícias que não sabem reagir nestas situações. No caso em concreto do assassinato desta semana, não tem nenhuma justificação”, indicou.

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