De que está à procura ?

Comunidades

Portugueses na África do Sul não antecipam mudanças políticas

© DR

Portugueses na África do Sul ouvidos pela Lusa manifestaram tranquilidade sobre o desfecho das eleições gerais de quarta-feira, que assinalam as primeiras três décadas de democracia no país sob a governação do ANC de Nelson Mandela.

De Pretória, a capital do país, à Cidade do Cabo, na província do Cabo Ocidental, que é governada desde 1994 pelo Aliança Democrática (DA), o principal partido da oposição, de centro-direita, o sentimento manifestado, em declarações à Lusa, é o de que a África do Sul continuará a ser governada pela aliança tripartida que integra o antigo movimento de libertação, Congresso Nacional Africano (ANC), de esquerda marxista-leninista, o Partido Comunista (SACP) e a confederação sindical COSATU.

“A comunidade portuguesa de Pretória está tranquila, antecipa-se que não haverá mudança do poder político, o país continuará na mesma, e o reforço da oposição poderá ser positivo para o país”, salientou Tony de Oliveira, dirigente demissionário da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória (ACPP).

“Estamos sempre com fé e com esperança que o país mude para melhor, mas as pessoas estão mais preocupadas com as dificuldades do dia a dia do que com o futuro [da governação], porque continua a haver muitos assaltos por tudo e por nada”, frisou.

Na ótica deste construtor civil de 63 anos, oriundo de Santa Maria da Feira, norte de Portugal, com duas filhas a estudar na África do Sul – a mais velha a terminar estudos superiores em Medicina -, os “jovens é que estão preocupados com o seu futuro (…) e querem emigrar”.

“Para quem tem a vida organizada há imensos anos neste país, é difícil trocar de vida”, apontou Tony de Oliveira, destacando como fatores, nomeadamente, as políticas raciais de empregabilidade, o elevado desemprego e o agravamento da violência.

Pretória, a capital do país, com 2,8 milhões de habitantes, e Joanesburgo, a capital económica, com mais de 6 milhões de habitantes, situam-se na província de Gauteng, o motor da economia da África do Sul, a mais desenvolvida do continente, onde reside a maioria da sua população, 15 milhões de pessoas, segundo dados oficias.

Gauteng é a maior economia provincial do país, governada pelo ANC, com a maior taxa de crescimento em 2022, atraindo mais de 1,4 milhões de migrantes, segundo o Governo sul-africano.

Em 2022, o PIB da África do Sul expandiu 1,9%, sendo que a economia de Gauteng cresceu 2,8%. Todavia, é nesta parte do país que as desigualdades sociais mais se fazem sentir, agravadas por corrupção pública endémica, uma taxa de desemprego de 45,5% entre os jovens de 15-34 anos, e uma inflação na ordem dos 5,2% em abril.

“Seja o que Deus quiser, evitamos falar de política, [a situação] vai continuar igual”, referiu, por seu lado, à Lusa Jorge Araújo, de 60 anos, dirigente da coletividade Núcleo de Arte e Cultura de Joanesburgo.

Na Cidade do Cabo, sul do país, as expectativas da comunidade portuguesa local “são mais do mesmo”, apontou o técnico marítimo Rui Santos, de 69 anos, natural de Aveiro.

“[No país] existe um sentimento generalizado de ‘desgoverno’ pese embora o facto de nós, os residentes aqui no Cabo Ocidental e na Cidade do Cabo, termos um sentimento de alegria e de positivismo em relação ao futuro porque estamos a ser governados pelo Aliança Democrática (DA)”, sublinhou.

O presidente da tertúlia local Academia do Bacalhau preconizou que, “continuando nessa senda, todos vão vivendo bem e, portanto, há muita expectativa positiva a esse respeito”, que contraste com “o sentimento no país de tristeza e de muita pouca ambição, na medida em que o futuro não promete coisa nenhuma a não ser aquilo que temos tido ou pior ainda”.

Questionado sobre o que reserva o futuro se o Aliança Democrática perder estas eleições na província do Cabo, como acredita o ANC do Presidente, Cyril Ramaphosa, Rui Santos respondeu: “Acredita o ANC, mas não acreditamos nós [os eleitores], mas isso seria o princípio do fim”.

As eleições gerais na África do Sul, marcadas para quarta-feira, 29 de maio, assinalam as primeiras três décadas de democracia sob a governação do ANC de Nelson Mandela após a queda do anterior regime de ‘apartheid’ em 1994.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA