
Cada vez mais observamos socialmente a ideia de que é bom sermos autónomos, mas ser autónomo é diferente de viver na ideia de que temos que nos tornar individualistas. Somos seres sociais, e como tal, necessitamos uns dos outros. Questionaria, se vivemos numa sociedade que cultiva a ideia de que as relações existem para preencher “aquele” algo em nós que não conseguimos lidar, como se de forma pragmática existisse a crença de que o outro será a cura e o salvador dos nossos problemas. Ou do nosso vazio?…
Procuramos parceiros que preencham exigências, que nos façam felizes sem nos desafiar, que se encaixem perfeitamente nas nossas expectativas. Ao mesmo tempo, valorizamos a independência, esquecendo que, embora seja essencial estarmos inteiros sozinhos, a plenitude só encontra verdadeiro significado quando compartilhada.
O problema surge quando o foco recai apenas sobre o que recebemos. Nessa lógica transacional, qualquer obstáculo torna-se um motivo para desistir. Pequenas dificuldades são interpretadas como sinais de que merecemos algo “melhor”, e o esforço para construir torna-se secundário diante da ânsia por gratificação instantânea e imediata. Talvez esteja isso também ligado à necessidade do imediatismo, de ter que ter tudo para já, sem requerer grande esforço e gasto de energia. A sensação de abundância e de que “Talvez exista algo melhor” aumenta a ideia de que o esforço não é necessário. Mas existe algo realmente valioso que não tenha requerido esforço?
Com isso, tornamo-nos inflexíveis, não criamos conexões fortes na procura incessante por uma perfeição que não existe. O resultado? Relações superficiais e vínculos frágeis.
Amar não é sobre contabilizar ganhos, mas também sobre oferecer. Relações verdadeiras não se sustentam no que podemos extrair, mas no que conseguimos construir juntos. O amor exige entrega, compreensão, e, acima de tudo, disposição para crescer ao lado do outro, em vez de apenas esperar que ele nos preencha.
Talvez seja hora de inverter a pergunta. Em vez de “o que ganho com isto?”, devemos nos perguntar: “o que posso dar?”, “Como posso ser uma presença que transforma, e não apenas que consome?” O que posso dar para que esta relação seja mais do que um reflexo do meu próprio desejo?”. Pois são os laços construídos no dar e no compartilhar que resistem ao tempo.
Deveríamos refletir na ideia de que nós também nos devemos tornar no parceiro ideal, para que possamos atrair o parceiro que desejamos. Primeiro dar para depois recebermos, não por exigência nossa, mas por gratidão do outro que encontra prazer no dar pelo bem que lhe fazemos.
Andreia Vieira