Jovem portuguesa deu a volta ao mundo e visitou 75 países
Joana Bacelar Virgy, responsável por um programa que junta estudantes universitários empreendedores, afirma que as pessoas, “na sua natureza” são boas e de todas as que conheceu nos 75 países por onde viajou, “ninguém quer a guerra”.
“Todos querem uma coisa: paz. Não acredito que algum ser humano queira a guerra. Sejamos católicos, protestantes, budistas, muçulmanos ou sem religião – todos querem a paz. O ser humano é isso. Existem depois alguns que acham que vale a pena fazer a guerra para não existirem outras, mas os seres humanos são bons por natureza. A sociedade corroí-nos e as experiências que acumulamos têm impacto na nossa vida, mas aqui, no Afeganistão, Austrália, Botswana, Bangladesh, todos queremos a paz”, afirmou à Agência ECCLESIA.
A formação em Ciência Política e o mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional deram a Joana a estrutura que precisava, mas faltava-lhe um lado “mais prático”; por isso, cedo, procurou viajar e ir em busca das pessoas que lhe dessem mundo.
“Foram várias experiências fantásticas, iniciadas com o programa Erasmus na Alemanha, onde vivi com duas colegas italianas, onde aprendi imenso. Quando terminei o curso estive um ano na Suécia, a fazer voluntariado com jovens que não trabalhavam nem estudavam e precisavam de apoio – usei muito o que aprendi nos escuteiros com o objetivo de se sentirem mais úteis na sociedade. Depois candidatei-me a um estágio no Ministério dos Negócios Estrangeiros e estive um ano na Rússia a trabalhar na secção consular”, recorda.
Desse ano, Joana afirma não se arrepender, mas reconhece que não pretende voltar: “Aqui percebi que vivia numa bolha europeia. Abriu-me a portas para ir a outros países dessa geografia. Estive no Uzbequistão, Tajiquistão, no Quirguistão, uma das primeiras viagens que fiz para um mundo mais distante do meu”.
As suas viagens são marcadas pelos rostos e pelas histórias que guarda, sempre com a marca da generosidade e da bondade que encontra em desconhecidos. “Fiquei em casas de pessoas que desconhecia em todos estes países. As pessoas ajudaram-me muito. Lembro-me de estar no aeroporto no Uzbequistão, e não tinha dinheiro porque me tinha esquecido de levantar. Conheci no avião um rapaz que me ofereceu boleia e de repente já estava em casa da tia, a dormir”, afirma.
Também na Tunísia, “um país vizinho mas tão distante ao mesmo tempo”, conheceu Mariam, uma jovem, em tudo igual a Joana, com quem passou uma Páscoa e rezou.
“A Mariam era uma rapariga igual a mim mas sem a oportunidade de estudar; teve de ir trabalhar para juntar dinheiro para poder estudar, e os pais queriam casá-la com o primo. E isto é algo normal para o seu contexto, para o meu não. Passado uns anos, ela entrou em contacto comigo a dizer que estava triste porque os pais queriam casá-la e ela queria casar por amor – mais um dado adquirido na minha vida. Pediu-me 100 euros para poder sair do país. Ela conseguiu ir estudar para a Alemanha, está casada na Turquia, e eu penso como 100 euros podem fazer a diferença”, conta.
O Afeganistão é um país que gostaria ainda de conhecer, em especial, as mulheres – “conhecer rostos, o país rico, com paisagens maravilhosas, excelente comida, mas com muita tristeza por não ter os mesmos direitos fundamentais” que Joana assume ter como garantidos.
Sem medo de ir a países em conflito, esta jovem, de 29 anos, quer conhecer razões “nos dois lados das fronteiras”, por isso quando foi a Israel não hesitou em ir à Palestina. “Encontrei pessoas zangadas umas com as outras, mas pessoas que nunca se conheceram. As suas famílias tiveram bombas em casa, e estas pessoas nascem, à partida, a odiarem-se mutuamente, sem a possibilidade de se conhecerem, e perceber que somos todos seres humanos. A minha bolha não me mostrava que as pessoas podem já nascer com ódio”, considera Joana Bacelar Virgy.
No Líbano, esteve em casa de uma família – “cá consideraríamos ser uma família terrorista por serem filiados no Hezbollah”, mas Joana quis perceber o que sentiam: “Esta família tinha sido bombardeada, ficaram sem nada e eu percebo o sentimento de alguém que nasce e lhes é tirada parte da família – porque morreu – perdem a casa, e tudo o que a família construiu. Para mim foi importante perceber o outro lado. Nesse local, onde nem a polícia entrava, ele cultivavam droga. Para mim não faz sentido na minha cabeça e contexto. Explicaram-me que ali só duas coisas cresciam na terra: ou droga ou maças e fruta não lhe dá de comer. Para mim, claro que há outras soluções, que passam pela aposta na educação, mas o mundo não é a preto e branco”.