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Considerações sobre os resultados das legislativas

© Lusa

Apurados os resultados dos Círculos das Comunidades, gostaria de partilhar algumas considerações. Em primeiro lugar, queria agradecer a todos os que se envolveram e apoiaram a nossa campanha e as nossas iniciativas, muito particularmente aos colegas de lista, Nathalie Oliveira, Alfredo Stoffel e Joana Benzinho, mas também aos coordenadores das secções e aos militantes e simpatizantes que disseram presente nesta campanha e ainda a todos os que estiveram presentes nos nossos eventos e nos deram algum do seu tempo para ouvir as nossas propostas. 

Foi uma campanha muito difícil, dadas as circunstâncias em que fomos para eleições, com a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente da República, e a demissão do nosso Primeiro-ministro devido a um caso da justiça que, sublinhe-se, surgiu num momento que obviamente nos prejudicou e sem que, até agora, tenha havido desenvolvimentos que confirmem as razões da abertura do processo. É importante reter estes factos.

Infelizmente, o nosso camarada Augusto Santos Silva não foi eleito, por poucos votos (3.657). Ficou em segundo lugar o Chega, um partido destituído de humanidade, que tem ganho espaço com uma retórica contra os estrangeiros e contra a corrupção, que, assinale-se, tem os mecanismos institucionais para ser combatida e com meios à altura. Registe-se também que o Chega ficou em segundo lugar com a ajuda da rede de apoio do bolsonarismo, que tentou o assalto ao poder e às instituições democráticas no Brasil, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos com Donald Trump. 

Na Europa, conseguimos manter o deputado, e o PSD não conseguiu eleger. Lamento também que não tenhamos conseguido manter o segundo lugar na Europa. O Chega ficou em primeiro lugar com 18,31% dos votos (42.972), o PS em segundo com 16,22% dos votos (38.061) e a AD com 14,21% dos votos (33.350). O PS ganhou na Alemanha, Bélgica, Reino Unido e França (em todos os consulados com exceção de Marselha, onde ganhou o Chega), a AD ganhou em Espanha e em “Restantes Países da Europa” (agrega vários países com menos eleitores) e o Chega ganhou na Suíça e no Luxemburgo.

O resultado mais surpreendente é o da Suíça, onde o Chega obteve quase 40% do total dos seus votos, desequilibrando os resultados. Esta votação é anómala, porque em todas as mesas de voto houve uma proporção entre as três principais forças partidárias (PS, AD e Chega) quanto aos votos expressos, sendo que, nas 160 mesas de contagem de votos, 80 no primeiro dia e 80 no segundo, o PS ganhou em 87, o Chega em 59 e a AD em 14. 

Mas esta situação na Suíça merece reflexão para se compreender o que se passou, porque a votação foge completamente do padrão. É preciso compreender se é apenas o efeito de descontentamento ou se há algo mais. Relativamente ao Luxemburgo, onde o Chega também ganhou, é um pouco incompreensível, porque a presença dos deputados do PS é regular e os governos do PS têm dado imensa atenção à nossa comunidade no Grão-Ducado. Além disso, é constrangedor que, num país onde quase metade da população é estrangeira, a comunidade portuguesa possa vir a ficar rotulada como sendo apoiante da extrema-direita. É algo, portanto, que precisamos de combater para que esta imagem injusta não fique colada à nossa comunidade no Luxemburgo.

Estes resultados, tanto na Europa como fora da Europa, são muito ilustrativos da necessidade de o PS reforçar a atenção às comunidades e fazer aquilo que ficou suspenso antes das eleições, que é uma renovação da estrutura do partido para estabelecer uma ligação sólida e permanente com as nossas estruturas e militantes no estrangeiro, sendo absolutamente necessário imprimir uma dinâmica diferente na informação, nos contactos, na utilização das redes sociais e nas iniciativas. Aliás, as atividades associadas às comunidades devem alargar-se para além dos que estão diretamente implicados, e envolver também outros dirigentes do partido, deputados de outros círculos eleitorais e autarcas. É preciso criar uma estrutura bem identificada para as comunidades e para as secções e os militantes no estrangeiro.

Se, por um lado, podemos elogiar o aumento da participação nestas eleições, decorrente da implementação do recenseamento automático em 2017 por um governo do PS, que foi de 333.520 votantes, por outro, temos a lamentar que, tal como sobejamente alertámos, os votos nulos tenham ficado perto dos 40 por cento, a exemplo do que aconteceu nas três últimas eleições. Apesar da insistência do Grupo Parlamentar do PS para que fosse substituída a fotocópia do Cartão do Cidadão, o PSD manteve-se intransigente. E o resultado foi que os votos nulos representaram nos dois círculos eleitorais 36,68%, o equivalente a 122.327 votos anulados, muito mais do que o triplo que tiveram os partidos mais votados na Europa, o que é inaceitável.

Portanto, temos grandes desafios pela frente, em que além do PSD temos agora também um partido extremista para combater, para os quais precisamos de todos e de um partido forte, coeso e combativo, virado para o combate político contra os nossos adversários. Temos de ter um partido mais forte e organizado nas comunidades, ter propostas importantes para a vida concreta dos nossos compatriotas residentes no estrangeiro, dinamizar as secções e torná-las mais operativas, para melhor defendermos as comunidades portuguesas e os nossos valores. 

Estamos juntos neste combate.

Paulo Pisco

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