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As eleições de março e o combate pela democracia

Nas eleições de 10 de março próximo, não se trata apenas de mais uma ida às urnas num ciclo político normal, até porque houve a demissão de um Primeiro-ministro e a dissolução do Parlamento num contexto que nos deve fazer refletir sobre o que está a acontecer à democracia portuguesa. Por essa razão, mas também pela necessidade vital de combater os extremismos que vão minando a nossa sociedade, estamos também a travar um combate pela democracia. 

No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de abril e o fim da ditadura, estamos a fazer um combate pelos valores da liberdade, da democracia, do pluralismo e do respeito pelos outros. Um combate pelo direito ao desenvolvimento, em que o protagonista tem de ser a política como arte nobre de procurar uma vida melhor para todos e não a justiça nem as televisões na sua voracidade sensacionalista.

Parece absurdo, mas a verdade é que os sinais que vão surgindo na sociedade portuguesa e na Europa são preocupantes. Há uma certa sensação de perda das referências morais e políticas, de desordem latente que irrompe quotidianamente nos protestos que são marcados por vários setores profissionais, de que um dos exemplos mais preocupantes é nas forças de segurança, independentemente da justiça das suas reivindicações.

Os protestos e manifestações a que temos assistido não são como os que nos habituámos a ver ao longo das 5 décadas de democracia em Portugal, por trazerem à mistura algo de provocatório e perturbador, com uma intenção de pôr em causa a ordem vigente de que é exemplo a falta de policiamento nos jogos de futebol ou a ameaça ao regular funcionamento das próximas eleições legislativas. 

A isto não é estranho o aparecimento da extrema-direita, que tem radicalizado e polarizado a nossa sociedade, fomentando a desordem e a confusão, de que depois se aproveita para obter ganhos políticos. E nesta voracidade sensacionalista e populista, em que interesses perversos se movem na sombra e os casos de corrupção surgem como um circo quotidiano a ocupar boa parte dos telejornais, e os políticos e a política são desacreditados na praça pública, a nossa autoestima coletiva vai sendo destruída, um ambiente tóxico vai-se instalando e a democracia vai-se degradando. 

Assistimos também recentemente em Lisboa a uma ignominiosa manifestação de neonazis contra os estrangeiros. Uma manifestação de neonazis, que até tinha sido proibida, com toda a simbólica do ódio racista e xenófobo, com saudações nazis, louvores a Salazar, tochas a arder, camisas negras e cabeças rapadas. Uma vergonha imensa. Como é possível acontecer uma coisa destas em Portugal?

É por isso que o povo precisa de estar alerta. Aquilo que o jornalista e professor britânico Paul Mason classifica no seu livro “Como travar o Fascismo” de “as forças elementares que ninguém pode controlar”, estão aí como um sinal de alarme poderoso para mobilizar todos para a defesa da democracia e das liberdades, do pluralismo e do respeito pelos outros. Não queremos uma sociedade dividida e em guerra permanente, de uns contra os outros. As tais “forças elementares que ninguém pode controlar” foi uma frase que António Gramsci utilizou para explicar como Mussolini chegou ao poder em Itália e é tão expressiva quanto assustadora, se pensarmos como os movimentos extremistas e nacionalistas têm vindo a alastrar um pouco por todo o lado.

O país precisa dos estrangeiros, que todos devemos respeitar e para os quais se devem encontrar condições dignas de existência em Portugal, da mesma maneira que queremos que os milhões de portugueses que sempre emigraram sejam respeitados e bem acolhidos nos países que escolheram para viver.

Por isso, cada eleição que se faça em Portugal ou em qualquer outra parte na Europa, tem agora um significado diferente. É um verdadeiro combate pela democracia e um apelo à memória dos tempos negros que destruíram a Europa com perseguições de toda a ordem e a instalação dos autoritarismos e totalitarismos.

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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