Quando a poesia murmura, eu digo canta,
Quando a poesia passeia nos campos de feno
Eu grito sons fogosos e maduros de amores
E lhe dou meu regaço fresco e moreno.
Quando a poesia murmura, sou fogo que consome
E me deleito com os cantares das fontes
E procuro, as urzes e giestas dos montes
E atiro uma pedra relâmpago e certeira
Que entre num coração cheio de fome.
Quando a poesia murmura, ponho meus louros velhos
E procuro sustentar o tempo e o sabor de um beijo
Molhado, cicatriz doce de uns lábios vermelhos.
Quando a poesia murmura, eu clamo minha beleza
Com sangue e granito, poema que assumo por dentro
Num corpo de brilho, perfil e com certa nobreza
Que se traduz alento, ritmo e algum sofrimento.
Quando a poesia murmura, eu não sou poeta que divaga
Agarro-a e saboreio sua candura e pureza que nunca se apaga!
José Valgode