Porque é que se diz “no Carnaval ninguém leva a mal”?
O psiquiatra e psicoterapeuta Vítor Cotovio acredita que a pessoa precisa de dias “sem julgamentos” para fazer “coisas ao contrário” do que é normalmente aceite e para dizer o que raramente se diz.
O diretor clínico da Casa de Saúde do Telhal referiu que há coisas que normalmente se dizem “em cochicho” por causa de diferentes “censores”, na família ou no trabalho, que a pessoa tem necessidade “de dizer à boca cheia”.
“Sabemos, pelos tais sensores, que se dissermos de uma forma aberta alguma coisa poderá não correr bem”, advertiu, mesmo sendo verdade o que afirma.
“É a verdade do que a pessoa sente mas sabe que, para viver em sociedade, não pode dizer tudo o que lhe vem à cabeça porque seria destrutivo para os outros e para si”, acrescentou.
Vítor Cotovio considera que o Carnaval permite que tudo seja feito ou dito sem “espaços” para que fique zangado o que goza e o que é gozado.
“O que é gozado tem menos espaços para ficar zangado e para se penalizar porque vai fazer má figura por ser Carnaval. Tem de relativizar, tem de ouvir e calar”, afirmou.
“Esta cumplicidade que existe entre quem brinca e quem é brincado tendo o enquadramento do Carnaval faz com que as pessoas não sintam legitimidade para levar a coisa a sério”, sublinhou o psiquiatra.
Vítor Cotovio considera que o Carnaval põe em relevo a “parte mais lúdica, mais impulsiva e mais criativa” de cada pessoa.
“Sentimos que não estamos legitimados para fazer uma coisa tão ao contrário do que é aceite, do que está previsto se não tivermos alguma coisa de fora que diga: neste dia, tu podes ser o que tu quiseres, fazer o que tu quiseres, porque não vai haver penalização nem julgamentos”, referiu
“Precisamos de um dia sem julgamentos”, considera o psicoterapeuta.
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