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Universidade de Berlim estuda “pós-colonialismo português”

O pós-colonialismo português é um dos temas abordados no mestrado de “Global History” (História Global), levado a cabo pela Universidade Livre de Berlim, um tema pouco abordado nas instituições de ensino alemãs.

Christoph Kalter, investigador e professor convidado na Universidade Livre de Berlim admitiu que os alemães em geral sabem “muito pouco da história de Portugal”.

“O período dos descobrimentos talvez seja o mais conhecido. Mas a história mais recente do século XX, do Estado Novo, do 25 de Abril e pós-colonialismo estão muito pouco presentes”, assumiu o professor, acrescentando ainda assim que o interesse está a crescer.

Kalter disse acreditar que nos últimos dez a 15 anos houve “um interesse novo e crescente na Alemanha pela sua própria história do colonialismo”. Mas também pelo tema de uma forma “mais geral”, realçou o investigador, “como o colonialismo continua a influenciar a sociedade”, na maneira como se lida “com a migração, o papel do racismo na Alemanha”.

“Estes temas talvez sejam comuns com os que têm surgido no espaço público português. Por isso acredito que há um interesse maior em estudar a história de Portugal aqui na Alemanha”, disse o professor, apontando também o turismo como motivo.

“Em 2017, seis milhões de pessoas visitaram Lisboa e boa parte desse número era de nacionalidade alemã. Para parte desses turistas, pode surgir também o interesse em conhecer a história de Portugal”, referiu Christoph Kalter, especialista em história francesa e portuguesa do século XX numa perspetiva de história global.

Christoph Kalter está atualmente a desenvolver o trabalho de investigação com o nome “Postcolonial People? ‘Retornados’, Migration, and Decolonization in Portugal” (Gente pós-colonial? Retornados, Migração e descolonização em Portugal, em tradução do autor).

“Antes de começar o meu atual projeto de pesquisa sobre os chamados retornados, eu não tinha nenhuma ligação a Portugal, nem com as antigas colónias portuguesas. Também não tinha nenhum laço familiar, nem amigos lusófonos. Comecei a estudar o pós-colonialismo apenas por interesse profissional ou académico”, contou o docente alemão.

Decidiu estudar o período da história ligada aos retornados depois de terminar o doutoramento, sobre a história francesa dos anos 1950, 1960 e 1970.

“Houve um evento muito importante em 1962, a guerra da Argélia. Depois de oito anos terríveis, de violência extrema, a guerra acabou com a independência dessa colónia francesa. Fugiram da Argélia quase um milhão de colonos franceses que chegaram a França e integraram-se lá. Achava fascinante essa ideia dos colonos desenraizados, dessas pessoas que são franceses, mas são diferentes dos franceses da metrópole”, explicou Christoph Kalter.

“Foi assim que descobri que, 13 anos mais tarde, algo muito semelhante aconteceu em Portugal, com a saída de meio milhão de portugueses das antigas colónias. Decidi que esse era um tema que eu queria trabalhar e, para isso, tinha de aprender português para a minha pesquisa”, detalhou o investigador, que começou a estudar o idioma em 2011, num curso da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Na Universidade Livre de Berlim leciona história portuguesa no contexto do programa de mestrado em História Global. Todas as aulas são dadas em inglês.

“Isso facilita uma abordagem da história portuguesa em vários níveis. Mais de metade dos alunos vem de outros países, há uma diversidade de origens e de backgrounds académicos muito importante. Muitos vêm de terras que foram marcadas pelo domínio imperial”, explicou Christoph Kalter.

O professor universitário tem tentado que o tema ganhe mais protagonismo na Universidade Livre de Berlim.

“No semestre passado, por exemplo, organizei uma viagem de estudo a Lisboa. Éramos um grupo de 14 alunos de dez nacionalidades diferentes. O tema era ‘Post-Imperial Capital – Lisbon and the Portuguese Empire’ (Capital pós-imperial, Lisboa e o colonialismo português). Foi fantástico”, rematou Christoph Kalter, contando que do programa fizeram parte ‘workshops’ com académicos e ativistas portugueses e várias visitas guiadas.

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