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“Uma Luz na Noite Escura” de João Carlos Melo

Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Uma Luz na Noite Escura»?

A principal ideia foi dar alguma esperança a tantas pessoas que se sentem sós. Não faço a apologia da solidão, nem este é um livro de auto-ajuda. Mas, nas variadas situações da vida em que estamos sozinhos, se compreendermos melhor a solidão e aprendermos a desenvolver a capacidade de estarmos sós, sentir-nos-emos melhor e mais em paz connosco próprios. Precisamos da companhia dos outros para nos sentirmos melhor e para nos definirmos melhor, mas a solidão é inerente à condição humana porque há um reduto dentro de nós que é incomunicável. Temos emoções, estados de espírito, experiências internas que são impossíveis de traduzir em palavras, e isso é uma forma de solidão. Fomos feitos para estar com as outras pessoas e ninguém é feliz sozinho. Por isso, quando falo da solidão e da importância de a pessoa aprender a estar sozinha, não estou a valorizar a solidão, ainda que muitas pessoas, em variadas circunstâncias, precisem de estar sozinhas. Mas, quando se quer estar acompanhado e se está só, é importante desenvolvermos a capacidade de estarmos sós. Por vezes, mesmo acompanhada, uma pessoa pode sentir-se só quando, por qualquer razão, não consegue comunicar com quem a rodeia e, por outro lado, não está bem consigo própria. Esta é a maior solidão. Tive a grata surpresa de ouvir testemunhos de muitas pessoas que me disseram que, depois de lerem o livro, compreenderam melhor a solidão e começaram a aprender e a desenvolver a capacidade de estarem sós.

Existe um paradoxo: estamos quase sempre ligados mas vivemos intensamente a solidão. Como explicar com isso?

Penso que, de uma maneira geral, na sociedade atual, estamos cada vez mais sós, mas com a ilusão de estarmos mais “ligados” aos outros. É verdade que, através de telefonemas, videochamadas, mensagens e interações nas redes sociais, estamos mais em comunicação com os outros do que alguma vez estivemos, mas é uma comunicação mais pobre porque lhe falta a dimensão afetiva da presença física, da proximidade e do toque, que são experiências fundamentais para todos os humanos. Há um problema acrescido com aquela forma de estarmos “ligados”: é o risco de nos afastarmos mais de nós próprios. No entanto, não menosprezo a importância daquelas formas de comunicação porque, se elas não forem um fim em si mesmas, mas sim um meio para conhecer mais pessoas e vir a estabelecer com elas relações presenciais e afetivas, então elas poderão contribuir para estarmos verdadeiramente mais acompanhados.

Sendo a solidão um dos males do nosso século, como é que os casos reais relatados no seu livro nos podem ajudar a lidar com a situação?

Muitos dos casos reais que apresento no livro são de pessoas comuns, iguais a todos nós. Algumas conseguiram feitos extraordinários, é um facto, mas são pessoas humildes e, acima de tudo, inspiradoras. Focaram-se em tarefas e em propósitos. Lutaram por causas. Perseguiram os objetivos a que se propuseram. Mantiveram-se ocupadas quando estavam sós. E aprenderam a estar consigo próprias. Uma pessoa que tem a capacidade de estar só é aquela que consegue fazer boa companhia a si própria. Isto quer dizer que ela conhece suficientemente as suas próprias emoções, medos e angústias e consegue aceitá-las e conviver com elas sem ter de fugir de si. Uma pessoa que aceite e que conheça os seus medos e inseguranças, está mais capacitada para fazer companhia a si própria.
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João Carlos Melo
Uma Luz na Noite Escura. A Solidão e a Capacidade de Estar Só
Bertrand  15,50€

Mais informação em www.novoslivros.pt

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