A União Europeia precisa de ter mecanismos para se defender daqueles que procuram perturbar o seu funcionamento, bloquear as suas decisões ou desvirtuar os seus valores, o que constitui uma ameaça à sua existência.
Os valores que fazem parte da identidade europeia não são negociáveis, mesmo que por vezes os seus limites tenham margens amplas devido à forma como são interpretados. É o caso de valores como o primado do Estado de direito, as liberdades, a dignidade humana ou a solidariedade dentro da União e em relação ao exterior.
E conhecemos hoje melhor os limites destes valores, porque eles foram postos à prova por países como a Hungria de Viktor Orban, que se vai eternizando no poder, ou a Polónia, no tempo dos irmãos Kaczjynski, mas também de outros. O que é preocupante, é que esta tendência para pôr em causa os valores fundacionais da União Europeia poderá agravar-se.
É verdade que a União Europeia é uma entidade complexa, nem sempre bem compreendida aos olhos dos cidadãos sobre o que ela significa, tanto no quotidiano de cada europeu, como no contexto do mundo multipolar de hoje, com grandes rivalidades económicas e militares.
Não podemos perder de vista que o projeto europeu foi criado para garantir a paz e a segurança no continente e para que os valores humanistas pudessem servir de travão à repetição de catástrofes insanas como as que ocorreram com as duas guerras mundiais do século passado, com milhões de mortos e uma destruição devastadora das nações.
Nenhuma outra organização regional conseguiu um nível de integração política e económica tão elevado como a União Europeia, que tem tido capacidade para definir objetivos de desenvolvimento com base na partilha de recursos comuns e para se adaptar aos desafios presentes e futuros. A União Europeia é um espaço de abundância e de liberdade e por isso é admirada, quer pela grande maioria dos europeus, quer por quem a vê de fora, razão pela qual continua a ter uma grande capacidade de atração sobre países que querem também tornar-se membros.
O que é absurdo e incompreensível é que os nacionalismos e populismos de diversos matizes estejam de volta de forma agressiva e sejam cada vez mais uma ameaça para o projeto europeu. A saída do Reino Unido da UE é uma dessas evidências que precisa de ser levada bem a sério.
Agora que haverá eleições para o Parlamento Europeu em 9 de junho, é preciso combater todos aqueles que querem fragilizar e destruir a União Europeia, sabe-se lá com que interesses ocultos. É verdade que a União Europeia não é perfeita, mas tem a grande virtude inerente de poder ser aperfeiçoada por dentro. Mas também será por dentro que pode mais facilmente ser destruída, bastando para isso que os seus defensores permitam que os seus inimigos avancem.
É hoje demasiado óbvio que muitos partidos de extrema-direita em vários países da Europa são movidos pela vontade de destruir por dentro a União Europeia, alguns com ligação à Rússia, inimigo confesso de tudo aquilo que ela representa, particularmente da democracia e dos direitos humanos. A evidência disso é a defesa que alguns fazem da saída da União Europeia ou do euro.
As sondagens apresentam projeções que dão fortes possibilidades de crescimento às duas famílias políticas que albergam os partidos extremistas de direita, os “Conservadores e Reformistas Europeus” e o “Identidade e Democracia”, eurocéticos, antieuropeus e nacionalistas, em alguns casos com influência de ideologias totalitárias. Ora, se neste momento já há muitos destes partidos que têm uma grande influência em vários governos eparlamentos, se o Parlamento Europeu também ficar refém dos extremistas de direita, então é a própria União Europeia que terá dificuldades acrescidas no seu funcionamento e eficácia e na defesa das suas conquistas, o que terá obviamente repercussões na vida concreta dos cidadãos.
É tempo, por isso, de acordar e de lutar, para travar a ameaça que vai avançando como uma mancha. E é preciso fazê-lo para as próximas eleições para o Parlamento Europeu, para evitar que males maiores venham bater às nossas portas.