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Trabalho de António Campos e o 25 de Abril em destaque em França

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“História(s) do documentário – Portugal antes e depois da Revolução” é o tema que inspira os Estados Gerais do cinema documentário de Lussas, em França.

Este evento cinematográfico que propõe projeções e debates, dedica a sua 36ª edição, de 18 a 24 de agosto, ao 25 de Abril.

“Como podemos prestar homenagem à Revolução do 25 de Abril de 1974 sem cair na retórica do aniversário?”, foi a questão que os organizadores se colocaram e optaram por contar a história do documentário português, das décadas de 1930 a 1980, do fascismo à democracia.

“Esta é para nós a melhor homenagem a este país e ao carácter único do seu cinema de realidade. Podemos considerar que em Portugal, até à década de 1990, não existia uma verdadeira tradição documental. Durante a ditadura, para além da propaganda, não existiam organizações de financiamento nem possibilidade de distribuição de filmes politicamente independentes#, explicam os organizadores.

Assim, Portugal não desenvolveu uma verdadeira escola de documentário (como no Reino Unido, por exemplo) e não contribuiu para os debates teóricos internacionais dos anos 30 em torno do cinema documental. Nem foi afetado pela revolução global do cinema direto da década de 1960. Depois de 1974, demorou a recuperar o atraso e a deixar de considerar o documentário apenas como uma passagem para os cineastas de ficção, e o didatismo do cinema ativista nem sempre ajudou.

“No entanto, houve grandes filmes e grandes realizadores, mas a deslumbrante singularidade portuguesa encontra-se noutro lado e nasceu das dificuldades técnicas, económicas e dos constrangimentos políticos exercidos pela ditadura”, considera a equipa que decidiu homenagear Portugal nos 50 anos do 25 de Abril.

O destaque dos Estados Gerais são os trabalhos do documentarista António Campos, que consideram “Ao afirmar que António Campos (1922-1999) é “o maior documentarista português, (…) que nunca se filiou em associações ou movimentos artísticos, não participou no Cinema Novo e nas batalhas ideológicas e teóricas que acompanharam o seu desenvolvimento”. Para os organizadores do evento, Campos “nunca foi realmente um realizador profissional, pois a sua carreira desenvolveu-se como cineasta amador que sempre trabalhou sozinho. Onde a modernidade do cinema identifica muitas vezes a cidade como centro dos seus interesses (Os Verdes Anos, Paolo Rocha, 1963), Campos, no seu isolamento, nunca abandonou a sua província, o campo (Leiria) e os lugares da sua memória ( Vieira )”.

Antes de receber apoio da Fundação Gulbenkian, nunca recebeu financiamento público e durante muito tempo fez os seus filmes de produção própria, com poucos recursos. Em vez de se interessar pelos indivíduos e pelos destinos pessoais, Campos foi um cineasta de comunidades abandonadas pela modernidade. “Muitas vezes identificado pela sua abordagem etnográfica ou antropológica, no centro da sua obra revela-se um interesse genuíno pelo poder estético do cinema e pela força evocativa da ficção: nem moderna nem clássica, mas acima de tudo, orgulhosamente isolada e livre. Campos foi antes de mais um cineasta ético, autor de um cinema refinado que recusava qualquer efeito estilístico”, afirmam os responsáveis pelos Estados Gerais do filme documental de Lussas.

Clique aqui para o programa completo do evento que decorre de 18 a 24 de agosto.

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