Tatiana Chaves conta em livro a luta contra a depressão jovem
Chama-se Tatiana Chaves Costa e é uma açoriana de 20 anos, natural da Ilha do Pico. Hoje está nestas páginas porque escreveu um livro que é, antes de mais, um apelo e um exemplo, sob o título “Resistência e superação contra a depressão”.
“Em agosto de 2021, infelizmente, tive que mudar de ilha e dar um rumo à minha vida que tem sido todos os dias uma constante adaptação”, contou ao BOM DIA. Em junho de 2022, Tatiana conclui o secundário e desde aí ficou “à espera do momento certo para entrar na universidade”.
Para além de estudante, Tatiana fez também parte do mundo das artes desde a música, até à dança e esteve durante três anos a tirar teatro. Muito ativa, praticou desporto (futebol e ténis de mesa) “onde tive a oportunidade de várias vezes ser convocada para jogar em campeonatos realizados em Portugal continental através do ténis de mesa e evoluir dia após dia”.
Mas desde maio de 2019 – dois meses depois das manifestações Fridays For Future – que Tatiana tinha outro foco. “Decidi aderir às greves climáticas representando os Açores nesta luta constante contra as alterações climáticas, tornei-me ativista, escrevi artigos, fiz entrevistas, dei palestras na minha escola e criei projetos”, explicou ao BOM DIA. A questão seguinte foi: porquê? “Sempre com a intenção de consciencializar as pessoas sobre a importância que é travar a tempo todos estes problemas antes que se torne irreversível”, explica com determinação.
Há um ano, em julho de 2023, Tatiana volta a surpreender ao lançar um livro. Mas esta obra não é sobre as questões ambientais ou sobre desporto, ou sobre arte,. “O meu livro é sobre uma parte mais escura da minha vida, a minha batalha contra a depressão e ansiedade”, revela.
Tatiana conhecia esse lado “mais escuro”, desde 2016. “Senti pela primeira vez que algo em mim não estava bem e quando tive a coragem de pedir ajuda já era um pouco tarde porque os meus sintomas já se encontravam num estado avançado e de risco”, confessou.
Desde 2016 que luta contra a depressão e ansiedade e ao longo dos anos muita coisa mudou e os sintomas foram piorando. “Acabei por pedir ajuda pela primeira vez em 2018 e desde aí que ando em psicólogas a tentar combater esta luta que tanto me tem destruído”, afirma Tatiana, que lamenta a falta de apoio: “as pessoas preferem julgar e criticar as pessoas pelas atitudes em vez de tentarem perceber o que se está a passar, porque muitas das vezes torna-se difícil conseguirmos controlar as situações”.
“Depressão é uma doença, é grave e pode matar sim. Por vezes aparece em alturas que menos esperamos, chega até nós de uma forma silenciosa que nem nos apercebemos dela”, lamenta a autora de “Resistência e superação contra a depressão”.
“A baixa autoestima persistente começa a destruir-te aos poucos”, confessa, explicando que sentiu que algumas pessoas “colocam-te uma espécie de prazos de validade”,
Tatiana revela que se vive “Torna-se “numa pressão sufocante diária. E no meio disso começas a perceber que há caminhos que podes escolher. Ou pedes ajuda, ou tentas tirar a tua vida. Começas a querer estar bem e a fazer por isso mas é como se tudo desse errado. Durante muito tempo tentei, lutei, esforcei-me, sobrevivi mas parece que nada foi o suficiente para alcançar o bem estar e para recuperar”.
A jovem tentou observar se a sua condição afetava outras pessoas e apercebeu-se que muitas pessoas “estavam na mesma luta que eu e que se sentiam sozinhas, assim como eu”. Foi por isso que, em 2020, começou pela primeira vez a escrever. “Inicialmente escrevi artigos que falavam sobre as greves climáticas e tudo à volta do ambiente, e com o passar do tempo arrisquei-me a escrever sobre saúde mental”.
E foi nesse mesmo ano que o mundo nos reservou mais uma rude experiência com a covid-19. “Quando fomos para pandemia foi notável o aumento de casos de depressão e dos suicídios também, já para não falar nos problemas que houve com psicólogos uma vez que muitas pessoas ficaram sem acesso ou porque no hospital estavam cheios ou então porque as consultas de psicologia privadas eram caras e muitos não tinham possibilidade de pagar para terem acompanhamento”, descreve. Tatiana admite que ela própria acabou por ficar sem acompanhamento nessa altura, uma vez que tinha que estar em casa e era acompanhada apenas por uma psicóloga escolar.
“Foi durante o estado de emergência, que comecei a pensar escrever um livro sobre depressão e ansiedade. Em 2020 comecei a pensar na melhor maneira de contar à minha história sem me expor muito e acabei por começar a juntar todos os meus desabafos de alguns picos mais altos que tive durante estes anos e que senti que algo em mim estava a mudar”, revelou agora ao BOM DIA, embora na altura todo o processo de criação do livro ter sido “organizado silenciosamente, só uma uma pessoa sabia que isto poderia acontecer e acompanhou cada etapa”.
No final de 2021, depois de se ter mudado e estando no seu último ano escolar, acabou a compilação do livro. “Foram dias e noites de choro a reviver e a reescrever sobre estes momentos. Pensei muitas vezes em desistir do processo devido ao medo dos julgamentos por parte do público até que a única pessoa que sabia disto me fez ver que os meus objetivos iam muito mais além do que qualquer crítica que pudesse receber e que não estava a fazer nada de mal, apenas a contar a minha história e nessa altura ganhei a coragem e força suficiente através do apoio dela para avançar com a publicação do livro”, conta.
No final do ano, Tatina começou a procurar editoras que estivessem à procura de publicar o meu livro, até que, em fevereiro de 2022, um escritor recomendou-me a sua editora e após umas semanas de o meu manuscrito ser entregue, recebi a confirmação que seria publicado. Iniciou-se então a edição e criação do livro que finalmente ficou disponível em julho de 2023.
E assim foi lançado “Resistência e superação contra a depressão”. O livro fala dos momentos entre 2016 e 2021 que acabaram por mudar a vida da jovem açoriana. “Destruíram-me, enfraqueceram-me, trouxeram-me imensas inseguranças e fizeram-me querer desistir da minha própria vida. Por detrás de todos estes medos e receios em publicar o livro, eu tinha um objetivo que valia mais do que tudo isso”, explica
“O propósito pelo qual decidi lançar o livro é muito simples: poder ajudar pessoas que passam por situações idênticas, que se encontram num estado mais depressivo ou com sintomas idênticos aos que senti”, confessa, pois quer “fazê-las que perceber que, por mais difícil que esteja a ser superar, a saída não precisa de ser necessariamente desistir. Eu sei que custa, sei que é difícil e que há muitas situações que dão cabo de nós e nos levam a um esgotamento emocional horrível, achamos que temos sempre culpa de tudo o que acontece e que já não há mais nada a fazer, mas vocês são capazes”.
O livro também serve como chamada de atenção, porque muitas das vezes pode ser o amigo, o filho, ou um companheiro que “aparenta ser bem resolvido e não ter motivos para estar mal”, quem está a atravessar uma depressão silenciosa e que aos poucos vai rejeitando as saídas ou convívios para se isolar.
Por isso, Tatiana deixa um conselho: “tenham sempre muito cuidado com o que dizem à outra pessoa e na forma como dizem, porque o que para vocês pode ser algo insignificante dito da boca para fora, para a pessoa que ouviu pode deixar marcas e contribuir para que se sinta pior, trazer inseguranças ou fazer com que se comecem a diminuir e desvalorizar em tudo o que sente ou fazem”.
Antes de encerrar a entrevista ao BOM DIA, Tatiana quis deixar “um obrigada especial” a Suzana Pais, a sua madrinha, e a única pessoa que soube de cada etapa por detrás da publicação, por ter acompanhado cada processo do livro “e pelo apoio impecável que me deu, e que me dá todos os dias seja nos momentos bons ou maus. Por estar sempre presente, por me ensinar sobre coisas tão necessárias, por ser a luz que tem iluminado a minha escuridão e por me dar motivos para recomeçar e continuar a sobreviver todos os dias. Graças a ela, ainda continuo aqui viva a conquistar coisas que se tivesse desistido nunca conseguiria lá chegar. Obrigada por fazeres parte de mim e da minha vida”, conclui Tatiana Chaves Costa.
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