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Serra da Boa Viagem sem acácias daqui a 20 anos

O Plano de Gestão Florestal (PGF) da Serra da Boa Viagem, na Figueira da Foz, prevê acabar no prazo de 20 anos com as acácias, espécies invasoras que ocupam a maioria do coberto vegetal daquele espaço natural.

Elaborado em dezembro de 2019 pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e consultado pela agência Lusa, o plano, com 113 páginas, está em consulta pública até quarta-feira e prevê sucessivas intervenções na Mata até 2039.

De acordo com dados de 2018, as acácias representam mais de 50% do coberto vegetal existente naquela Mata Nacional e o plano de gestão, embora não as quantifique, refere que o arvoredo é constituído em 96% por povoamentos mistos de folhosas e resinosas (pinheiro-bravo, pinheiro-manso, eucalipto ou cedro-do-Bussaco, entre outras), “com alguma dominância de acácias”.

“Esta Mata encontra-se conquistada por Acácia-de-espigas [espécie presente em nove das dez parcelas de terreno incluídas no Plano e que, no conjunto, totalizam os 401 hectares arborizados], que constitui uma invasão biológica e configura uma grande ameaça à conservação da biodiversidade dos ecossistemas onde ocorre, contribuindo para a perda de espécies nativas e para a homogeneização global dos territórios”, lê-se ainda no documento.

Nesse sentido, o PGF refere que a Acácia-de-espigas, espécie introduzida em Portugal para estabilização de terrenos, “apresenta atualmente proporções graves, visto serem plantas com características de altamente invasoras”, a que se juntam outras espécies vegetais exóticas, três das quais da família da acácia.

“As diversas espécies de plantas exóticas invasoras que se encontram disseminadas na área da Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha deverão ser eliminadas e controladas, pois são plantas que se propagam facilmente, acabando por dominar as espécies da flora nativa”, argumenta o ICNF, que, num dos quadros que faz o resumo das ações de silvicultura preventiva a executar, estabelece um calendário anual, a concluir em 2039.

Aquando da plantação de árvores na Serra da Boa Viagem, realizada no período de uma década, entre 1913 e 1924, pelo regente Manuel Alberto Rei, a Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha ficou com 401 hectares arborizados, dos cerca de 418 que possui, com os restantes 17 hectares ligados à ocupação urbana e vias de comunicação.

Nos últimos 25 anos, a mancha florestal original foi devastada por dois incêndios (1993 e 2005) e duas tempestades (2013 e 2018). Indo mais atrás, num período de 44 anos, entre 1975 e 2019, o ICNF frisa que foram explorados quase 80 mil metros cúbicos (m3) de madeira, a grande maioria (88%) relativos àquelas quatro catástrofes naturais, com especial ênfase no incêndio de julho de 1993, que resultou no corte “extraordinário por motivos imponderáveis” de 54 mil m3.

Já o corte por motivos fitossanitários, de manutenção florestal ou controle de espécies invasoras (denominados cortes culturais), representaram, no mesmo período, apenas 12% do total de madeira retirada. Aliás, a concretizarem-se as ações previstas no plano, será a primeira vez desde 1977 (há 43 anos), que decorrerão cortes culturais na área da Mata Nacional, lê-se no documento.

O PGF analisa as várias funções adstritas ao espaço natural, reservando cerca de 70 hectares para ações de defesa da floresta contra incêndios e dando também ênfase ao “enquadramento paisagístico e recreio” da Mata Nacional.

Este último inclui, segundo o ICNF, um sítio arqueológico, seis monumentos megalíticos, um restaurante, dois miradouros (Bandeira, para norte e Vais, para sul), a fonte de Santa Marinha, oito parques de merendas, quatro percursos BTT e uma rota pedestre.

Dos oito parques de merendas existentes, o Plano de Gestão Florestal revela, no entanto, que por força das catástrofes naturais, nomeadamente as duas últimas tempestades, metade possui “todo o equipamento destruído”, três têm parte do equipamento danificado e apenas um está em “razoável estado”.

O percurso pedestre com 5,2 km de extensão, denominado Rota da Boa Viagem, promovido pelo município da Figueira da Foz, encontra-se em “fase inicial de implantação”, e os quatro percursos BTT, com quase 24 km de extensão total e graus de dificuldade diferentes, já foram autorizados, mas ainda não foram instalados.

Nas considerações finais do Plano, o ICNF sublinha, entre outros argumentos, que a “execução cuidada” das propostas irá proporcionar à Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha “uma área mais ambiciosa e apelativa aos habitantes locais e aos turistas”.

Avisa, no entanto, que deve ser impedido “um uso demasiado intenso” do espaço natural: “Caso contrário, terão de ser tomadas medidas para serem controlados os acessos”.

Embora não avançando o custo das intervenções a realizar, o ICNF defende que para o “sucesso da execução” do PGF depende sobretudo a “disponibilidade financeira para os investimentos programados”.

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