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Quarto 1702

A porta azul era a promessa
tão somente para um chá e uma conversa
sobre Chagall, Matisse, Picasso, Dali
e com sorte, talvez, Lautrec ou Modigliani.

Mas sem deixares chegar
a infusão ao fim,
ordenaste: queres posar nu para mim,
anda cá, deita-te aqui!

Enquanto eu decidia
se devia responder que não,
empurraste-me eu e a minha apatia
para cima do divã,
despiste-me com os olhos,
falaste-me das meninas de Avinhão,
do período azul, da abelha e da romã,
de piqueniques na relva, do feno aos molhos,
de passeios românticos numa travessa
nocturna e de copos de anis
emborcados à pressa
por putas peitudas desenhadas
por pederastas de Paris,
e das virgens desdentadas
e das suas madrastas desbocadas
nas quais os pintores sem talentos nem artes
queriam apenas despejar os tomates,
falaste do claro-obscuro, de Gauguin e Dallaire
e da contraluz curiosa no meu falo a crescer.

Na parede oblíqua, orgias assombrosas
de braços sem troncos, bustos e rostos,
ombros curvados sobre coxas copiosas,
pernas abertas revelando o princípio do mundo,
corpos espojados de sexos expostos
como os nossos no chão deste quarto,
e os meus dedos penetrando o teu fundo
enquanto as tuas mãos no meu sexo farto
vieram arquitectar sem lápis ou pincéis
na minha pele desenhos e esquissos
em formas tão belas e agéis
ao som dos teus gritos insubmissos,
e os teus seios livres e urgentes
nos meus lábios sedentos e diligentes.

O relógio mole deliquesceu e alongou
a tarde em serão, e o serão em madrugada,
tantas vezes cheguei ao teu delta desejado
e morríamos os dois com a minha chegada,
um sundo inundo, uma cona alagada
e um caralho latejante, dorido e inchado,
que se volta a erguer na tua boca malvada.

JLC07022019
(Imagem: “The Lovers”, pintura de Shannon Parsons)

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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