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Provocação alemã

Medidas concretas tomadas pela assembleia sinodal para a Igreja na Alemanha: de futuro em todas as dioceses serão possíveis celebrações de bençãos para casais homossexuais…

Leigos empossados, homens e mulheres, também podem pregar nas diferentes liturgias da igreja de modo a que a igreja se torne sinodal com mais participação em todos os níveis.

A bênção da igreja não será mais negada aos divorciados que se casem novamente.

Na última assembleia sinodal em Frankfurt, no terceiro dia (19.03) foi eleito um “Comité Sinodal” que consta de 27 bispos diocesanos, 27 membros eleitos pelo ZdK (Comitê Central dos Católicos Alemães) e outros 20 membros agora eleitos pela assembleia (1). O “Comitê Sinodal” manterá o processo de diálogo entre representantes dos bispos alemães e representantes dos leigos e trabalhadores da Igreja.

Na assembleia do caminho sinodal (2) os membros revelaram-se capazes de compromissos embora alguns aspectos doutrinais tivessem de ficar em aberto para serem resolvidos no sínodo no Vaticano pelo Papa Francisco (diaconado para mulheres, celibato).

Os bispos exigiram abertamente o diaconado para as mulheres. 93% da assembleia geral e 80% dos bispos votaram a favor.

A discussão pública na Alemanha sobre o caminho sinodal tem sido controversa e polarizada fazendo lembrar uma discussão entre partidos sobre uma instituição de grande relevância social, mas conduzida sob aspetos políticos sem grande preocupação espiritual.

Um dos argumentos teológicos em favor da mudança baseia-se na atitude cristã primitiva de interpretar os sinais dos tempos (um elemento da revelação) para que a igreja não se ausente da vida real.

No meio de tanta discussão o Papa encontra-se numa situação desconfortável e difícil porque o poderá levar a sentir-se só com o Espírito Santo: não será fácil conciliar a fé cristã com uma política mundana orientada por maiorias. Por outro lado, os sinais dos tempos não parecem indicar que se deva submeter a doutrina bíblica e eclesial a simples tradições de ética sexual, sejam eles do passado ou do presente. Tentar limitar hoje a sexualidade ao matrimónio sacramental revela-se ainda mais difícil que manter o celibato obrigatório para todos os padres.

Numa altura em que a pastoral tende a acentuar-se sobre a teologia… seria uma oportunidade para a mística cristã poder vir a assumir (finalmente!) um papel mais determinante na vida eclesial.

Na cultura alemã sobressai a racionalidade e a natureza científica envolvidas por uma forte ética de trabalho e amor pela ordem e estrutura deixando pouco espaço para a espiritualidade/religiosidade.

É sintomático o facto de a língua alemã usar uma só palavra (Glaube) para designar crença e fé (Pístis)…

Fica-se mais pela liturgia da palavra do que pelo aspecto místico da devoção sendo a religião muito psicologizada e, como tal, orientada para as coisas deste mundo.

Por vezes sobressai a impressão de se procurar apenas a autorrealização, e de se querer salvar e melhorar o mundo por conta própria.

O discurso público e religioso encontra-se unilateralmente politizado, facto que se observa cada vez mais na opinião pública europeia; a politização da vida ameaça empurrar para longe todas as outras áreas da vida pública…

Na pastoral, muitas vezes, são usadas palavras muito sensatas que têm mais a ver com temas e sistemas seculares de pensamento do que com um sistema religioso de atitude cristã em relação com Deus. Pela impressão que tenho da maneira de ser alemã centro-norte, a pessoa encontra-se mais centrada em si mesma procurando encontrar em si a força para agir não contando muito com o apoio de outras dimensões da realidade como a fé, a graça e a oração…

António CD Justo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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