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Português venceu prémio de fotógrafo do ano 2023 e agora lança livro

© DR

O fotógrafo português Edgar Martins vai publicar em livro um projeto premiado de homenagem ao amigo Anton Hammerl na guerra civil líbia, trabalho que descreveu como o “mais complexo e mais ambicioso até a data”.

Intitulado “Anton’s Hand is made of Guilt. No Muscle of Bone. He has a Gung-ho Finger and a Grief-stricken Thumb”, o livro vai ser publicado em abril e é caracterizado como “um trabalho de pesquisa, um lipograma e um estudo antropológico imaginário”.

“A metodologia e linguagem adotada e a sensibilidade com que o tema foi abordado tornou possível abrir um diálogo sobre como representamos a guerra, a morte e o trauma”, afirmou à agência Lusa.

O trabalho é uma sequência do projeto que iniciou em 2019 quando, frustrado com a falta de informação, decidiu investigar a morte do amigo fotojornalista Anton Hammerl durante a guerra civil líbia, em 2011.

Além de viagens ao norte de África, fez investigação na Internet, que abrangeu espaços encriptados, conhecidos como ‘dark web’, reservados a extremistas islamitas ou a apoiantes de Mohammar Khadaffi, com o objetivo de encontrar referências ao amigo.

A série de fotografias que produziu na sequência deste projeto, chamada “A Nossa Guerra”, mereceu a Edgar Martins, que vive e trabalha no Reino Unido, o prémio de Fotógrafo do Ano na categoria Retrato dos Prémios Mundiais de Fotografia Sony 2023.

Ao publicar o trabalho fotográfico decidiu adicionar imagens recolhidas durante a pesquisa e textos do escritor britânico Will Self e do académico David Campany.

O livro de 328 páginas será acompanhado por um álbum de paisagens sonoras “que explora, de forma tátil e sensorial a experiência da guerra”, e incluirá, numa edição limitada da obra, a reprodução de desenhos encomendados a um combatente líbio.

Esta produção também está na base de várias exposições sobre este projeto em Londres, durante a Sony World Photography Awards Exhibition 2024, a decorrer até 06 de maio, e em Lisboa, na Galeria Filomena Soares, em setembro.

Além das fotografias e das instalações sonoras, a exposição conta com uma tecnologia desenvolvida propositadamente para programar, sincronizar e apresentar projeções em equipamento visual específico.

O artista pretende que o livro e exposição levem o leitor ou visitante a reposicionar-se na forma como se relaciona com o tema da fotografia em situação de conflito.

“Incita uma leitura experimental. Ela exige uma mudança epistemológica: a renúncia da predisposição automática do espectador/leitor para a certeza e clareza na forma como nos relacionamos com imagens e sobretudo imagens de guerra”, explicou à Lusa.

Além das fotografias que tirou com combatentes líbios, dissidentes ou outros locais, livro e exposição incluem fotografias tirada por civis em telefones móveis que estes partilharam em fóruns na Internet e em redes sociais.

Algumas destas imagens parecem mostrar crimes e atos de violência na Líbia, o que acentua a consciência do conflito, bem como a dificuldade de documentar e testemunhar a guerra, sendo acompanhadas por um texto ficcional de Will Self.

“O desafio que coloquei ao Will foi abordar o tema indiretamente de forma a conectar com as experiências de perda e trauma a que mais estamos habituados, como a morte de um ente querido”, referiu o fotógrafo português.

“O projeto apela à razão, ao sentido, ao sentimento, mas também ao nosso sentido de descoberta, ao nosso sentido de indignação, à nossa capacidade de empatia. É um livro que faz com que questionemos constantemente as nossas expectativas e convicções e o que esperamos de imagens e a forma como nos relacionamos com elas”, resumiu.

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