Pedra bruta, disforme, áspera, cinzenta
que o rio cuspiu na noite pardacenta
ninguém lambe o calhau
ninguém o cinzela e esculpe
ninguém desvenda o diamante
e o mistério do seu ventre
a ferramenta divina
furtou-se à mão superior
e o mineral abominável que dele caiu
não lasca, não corta, só amola
sente mas sente mais por não sentir nada
caminho virgem mil vezes pisado
flor por colher de pétala arrancada
longe dos passeios dos amantes
pedra que se afunda no mar.

Daniela d’Ávila