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Paraíso pendular

“Paraíso pendular” é o mais recente livro de poesia do poeta Cláudio Cordeiro, o último de vários livros editados ao longo dos anos. Natural de Mortágua, Portugal, reside agora na Suíça.

Com um título revelador das oscilações da existência, em “Paraíso Pendular” o poeta cria um mundo novo de significados. Na confirmação da última recolha de poesia do poeta “luz na face”, a estética é inovadora.

Ao longo de todo o livro assistimos a uma construção e desconstrução dos vocábulos, atribuindo sentidos novos à sintaxe, à morfologia, à semântica e à construção frásica do poema, conferindo-lhe beleza e subjetividade.

“Submergem, inconscientes

as rosas na primavera a-dor-mecida

com junto sabor a terra nus olhos, ainda antes

de nascer o beijo ou as mãos no interior do corpo”

Neste poema que inicia o livro assistimos a essa inovação sintática da palavra e que percorre o sentido onírico do poema. Transparece esse lugar de sonho e de fantasia onde o sujeito poético se espraia. São duas as realidades com que nos deparamos na leitura deste livro, a face material, e a face imaterial da condição humana. O movimento pendular da vida. A oscilação num vai e vem, entre o sonho e a realidade, entre a consciência e a inconsciência, entre a vida e a morte, entre a matéria e o espírito. Entre a condição terrena e a procura de abrigo em algum paraíso perdido. Neste movimento pendular a sequencia temporal é por vezes confusa, mas certamente inevitável. É um combate entre a palavra e a criação, entre o sujeito poético e a sua consciência num exercício de construção lírica. “O tempo como algo de irremediável/Ignoro-o com a mente sedenta e um relógio/que possa ir-indo aos poucos, a razão dos olhos.” Neste movimento assimétrico, oscilante entre a palavra e o pensamento, a razão e o sentimento, numa linguagem plurissignificativa, subjetiva, assiste-se a essa vivência mutável a que o sujeito poético se entrega ao longo de todos os poemas.

“outra vez um

grito e as palavras

calando o sangue

magnético das respostas

inimagináveis. Estou ao

nível das coisas mais altas”

Nesta demanda de se ultrapassar a si próprio o poeta serve-se da linguagem poética e da arte literária para encontrar as respostas às suas inquietações terrenas, o grito interior e as palavras que ressoam no espaço, como sangue vivo que jorra do Ser e se transmuta em imagens surrealistas do pensamento. “A lírica é o desenvolvimento individual, diz respeito a situações e objetos particulares, assim como à maneira segundo a qual a alma, com os seus juízos subjetivos, as suas alegrias e as suas admirações, as suas dores e suas sensações, toma consciência de si próprio no seu conteúdo.” Escreve o filosofo Hegel na sua obra
“A Estética”. O poema sublima-se neste grito e nesta vontade se transformar em algo maior. Neste sentido, ele é “um poeta que busca/ o limite impossível das/ montanhas reveladas. Alguém/ consumido na confusão da procura/e uma porta que abre no final.”

Será a porta do paraíso a que o sujeito poético faz alusão? A porta da criação, da sublimidade da existência? Ou a porta da linguagem poética como redenção?

Seja qual for a resposta encontrada por cada leitor, o sujeito poético revela-se no último poema deste livro.” Sinto-me azul/ como um oráculo/ bebendo o sol que desce/ sobre o céu matinal/sobre o meu céu
marítimo/ encarnado sobretudo o interior/ líquido de-mente humana”.

É a esta dimensão superior do ato poético, a procura da luz, da liberdade redentora, de regeneração, de um estado elevado de consciência, de unificação ao sagrado a que toda a criação literária se entrega. Apesar de todas as contingências humanas, apesar da violência, dos medos, dos anseios, a busca do paraíso pendular é transversal ao longo de toda a obra.

“Paraíso Pendular” de Cláudio Cordeiro

Edições Glaciar, 2019

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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