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Pão-de-ló de Margaride: entre a tradição sagrada e a gula profana

A fábrica de Pão-de-ló de Margaride fica ao lado da Câmara Municipal de Felgueiras. A casa do Pão-de-ló Rosa Sousa situa-se na mesma rua, em frente à Praça da República. Apenas uns metros distam histórias de vida comuns: de famílias talentosas que se dedicaram aos doces conventuais e criaram pães-de-ló únicos. Todos os anos, geralmente no último fim-de-semana de junho, o cortejo das flores das festas de S. Pedro passa diante dos seus estabelecimentos, seguindo em direção ao Monte de Santa Quitéria. Uma celebração dividida entre as tradições católicas, os doces conventuais sagrados e os prazeres da gula mais profanos.

Rosa Maria subiu lentamente as escadas com o auxílio de uma bengala. Aos 86 anos ainda continua a marcar presença nas festas de S. Pedro. O sorriso dócil esconde o cansaço de uma vida dedicada ao trabalho e ao negócio fundado com o marido. A Casa Rosa Maria mantém-se no mesmo local, situada em frente à Praça da República de Felgueiras, mas foi renovada recentemente, ganhando três apartamentos de alojamento local. No passado concentravam a produção e venda no rés-do-chão, mas hoje em dia já não é possível fazer isso e produzem fora do centro da cidade. Sentados numa pequena varanda, abrigados do sol tórrido e com uma árvore no nosso meio, fomos ouvindo as histórias que envolvem a massa do Pão-de-ló desta família.

Para um paladar pouco atento, os pães-de-ló podem parecer todos iguais, mas todos têm as suas diferenças. Com os mesmos ingredientes – açúcar, ovos, farinha – diferentes famílias criaram diferentes receitas no sabor, mas com as mesmas quantidades de amor e dedicação. “Das cinco empresas conceituadas pela produção do Pão-de-ló de Margaride, nós somos a mais jovem. E eu acho que o nosso Pão-de-ló é mais húmido, mas casa pessoa tem o seu gosto e opinião”, explica-nos o filho.

Hoje José Mário assume os comandos da empresa fundada pelos pais, faz as honras da casa construída há 45 anos e dá continuidade a uma família com talento para a doçaria. “O meu pai era um verdadeiro cientista da doçaria, experimentava tudo e era um autodidata também”, conta-nos. Quando começaram com o negócio, Rosa e o marido apostaram essencialmente na venda do Pudim Abade de Priscos, produzindo 1000 pudins por semana. Mais tarde os próprios clientes conduziram-nos também para a venda da doçaria tradicional. “Imaginam o número de ovos que eles precisavam partir e separar a clara da gema por dia?”, perguntam-nos sorrindo.

José Mário herdou o gosto do pai pela ciência da culinária e também inovou bastante durante os últimos anos. Em 2014 criaram as ‘Cavaquinhas da Serra’, combinando o doce das cavacas com o sabor salgado do Queijo da Serra. Ao Pudim Abade de Priscos adicionaram três novos sabores para além do bacon já existente, e vendem pudins de ovos, café e laranja para os supermercados E.Leclerc e empresas de catering da região. No caso do Pão-de-ló, e porque não querem que o seu consumo se fique apenas pelo Natal ou Páscoa, já apostaram na criação de semifrios que fazem as delícias dos mais gulosos durante os meses mais quentes do ano. De acordo com José Mário estas criações envolvem muito trabalho, mas têm recebido um forte reconhecimento com prémios a nível nacional. “Não sei se já repararam, mas eu tenho algumas abelhinhas penduradas à volta da minha árvore. Isto é uma metáfora que utilizamos em Felgueiras porque somos conhecidos como um povo trabalhador”, explica-nos já no final.

Doce, docemente, em direção ao mercado da Diáspora

Neste momento, o grande desafio é a aposta no mercado da Diáspora. Os cinco produtores conceituados em Felgueiras pela produção do Pão-de-ló de Margaride sonham com a entrada nos mercados estrangeiros, especialmente no Luxemburgo, França, Bélgica ou Espanha, onde vivem muitos portugueses e emigrantes da sua região. Consciente desta realidade e procurando também dar apoio aos empresários locais, a Associação Empresarial de Felgueiras (AEF) decidiu apresentar uma candidatura para criar uma marca coletiva e a Indicação Geográfica Protegida (IGP) do produto. De acordo com Cláudio Ferreira, Diretor-Geral da Associação Empresarial, pretendem reconhecer o Pão-de-Ló de Margaride e o seu caráter tradicional e genuíno, tendo em vista a sua comercialização em mercados externos.

A maior dificuldade para acelerar a exportação está relacionada com a validade do produto. Atualmente um Pão-de-ló de Margaride pode ser consumido dentro de três semanas, mas os produtores, em conjunto com a Associação Empresarial, já estão a estudar outras possibilidades de conservação, nomeadamente a aposta na ultracongelação. “Foi muito difícil conseguir reunir à volta da mesma mesa cinco empresas que foram sempre concorrentes, mas procurámos explicar-lhes que eles juntos podem ser mais fortes e acho que conseguimos um bom resultado”, afirmou Cláudio Ferreira. Neste momento a Fábrica de Pão-de-ló de Margaride, o Pão-de-ló de Margaride António Lopes, a Casa de Pão-de-ló Agostinho de Sousa, o Pão-de-ló de Margaride Mário Ribeiro e a Casa Rosa Sousa são as cinco empresas associadas ao processo de certificação, mas outros produtores podem entrar, desde que cumpram os requisitos exigidos na sua receita : Açúcar, ovos, farinha com amor, trabalho árduo e dedicação em doses iguais.

E o que acompanha bem o Pão de ló? Tudo, sobretudo Vinho Verde

Este ano as 7 maravilhas da doçaria em Portugal são dedicadas à doçaria portuguesa, entre a tradição e a inovação, e o Pão-de-ló de Margaride está a participar também no concurso. Os felgueirenses dizem que o doce combina bem com tudo, aceitando o gosto de todos. “No outro dia até vi uma pessoa a comer Pão-de-ló de Margaride com uma sardinha no meio. Depende do gosto de cada pessoa”, conta-nos Cláudia Ferreira sorrindo. Mas, geralmente, quando oferecem um Pão-de-ló no mês de junho, preferem colocar uma garrafa de vinho verde fresco da região em cima da mesa para acompanhar. O concelho é o maior produtor de vinho da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, contabilizando 10,9 milhões de litros.

Para terminar bem o dia visitámos uma produção de vinho verde, passando o final de tarde entre os bagos e vinhedos da Quinta da Lixa. Neste momento a empresa tem um total de 105 hectares de vinha distribuídos por várias Quintas e apostou fortemente na diversificação dos seus vinhos, colocando no mercado vários Vinhos Varietais e Espumantes de Vinho Verde. Atualmente apresentam uma forte oferta em vinhos leves, com a perfeita estrutura para refrescar um final de tarde passado na praia ou à volta da piscina e já ganharam vários prémios internacionais. Depois de uma rápida visita à Adega e de uma prova de vinhos, ficámos com a certeza que em Felgueiras não falta fartura à mesa e o copo depressa passa de ‘meio cheio’ para completamente ‘vazio’.

Graças à forte indústria do calçado e à recente aposta na produção de Kiwi e espargos, o concelho pode-se hoje gabar de uma taxa de desemprego reduzida, que ronda apenas os 4%. Uma prosperidade que orgulha a actual direção da Câmara Municipal, mas que segundo o Vereador Joel Costa pode melhorar se o Pão-de-ló de Margaride for conhecido ainda mais internacionalmente.

Joana Leal Moreira

 

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