De que está à procura ?

Colunistas

Os professores e o porco com lápis nos olhos

© DR

Uma caricatura do primeiro-ministro com um focinho de porco e dois lápis espetados nos olhos, não é apenas um insulto a António Costa; é também uma agressão violenta e um insulto à democracia e aos valores republicanos de respeito pelos outros e pelas instituições.

É um péssimo exemplo, por quem deveria ser exemplar na transmissão de valores. A escola é isso mesmo, um lugar de valores demasiado importante, que nunca deveria deixar-se capturar por nenhum tipo de interesses. Se deixa de ter essa função, contamina toda a sociedade, transformando a relação entre as pessoas numa selva. Manifesta, além disso, uma grave insensibilidade e indiferença perante o humano. Em democracia, todas as lutas sociais são legítimas e fundamentais, mas, como em tudo na vida, é preciso razoabilidade para evitar radicalizações que ultrapassam os limites do bom senso, o que desvirtua os combates.

A luta dos professores, por maior que seja a sua legitimidade, foi transformada em egoísmo de classe, por perder a visão de conjunto em relação a outros setores e por desprezar tudo o que já foi conquistado em termos de carreiras e de direitos. O querer tudo, e já, é incompatível com a multiplicidade de muitos outros compromissos que qualquer governo tem, particularmente em termos orçamentais. Não é uma forma de negociar. É mais uma forma de desgastar. E há muita gente hoje que, perante a força de uma maioria absoluta parlamentar e faltando melhores argumentos, aposta tudo em desgastar o governo e criar instabilidade, indiferentes ao país real.

Acresce que nem sequer se preocupam em ponderar que está a ser feito um grande esforço para dar resposta a três crises sucessivas, que naturalmente têm os seus efeitos no tempo: a crise financeira e económica de 2008, a pandemia de covid em 2020 e a guerra e as suas consequências económicas de 2022. Mais do que liberdade de expressão, aquelas infelizes caricaturas representam antes o insulto gratuito, uma degradação ética, com que certamente a grande maioria dos professores não se identifica. Representam mesmo a destruição de valores, pelo impacto negativo que tem em quem interioriza aquelas imagens que revelam um atropelamento de todas as regras entre pessoas e instituições.

Por isso, não deixa de ser constrangedor ver professores empunhar aqueles cartazes sem que eles próprios se questionem, ao lado de manifestantes que proferem insultos racistas totalmente inaceitáveis e que necessariamente incomodam toda uma classe profissional. Tornou-se moda espezinhar os políticos e atribuir-lhes a origem de todos os males, com tantas sentenças quantas as cabeças que as proferem. Mas, na realidade, quando se deixa de ver a floresta para olhar só para a árvore, está-se a utilizar as técnicas dos extremistas. Os extremismos que destroem a coesão e a convivência nas nossas sociedades. Aliás, o aumento das agressões racistas, verbais e físicas, não é alheio ao sentimento de proteção que algumas pessoas sentem por se acharem legitimadas pela representação da extrema-direita racista e xenófoba no Parlamento, sempre a usar a sua linguagem exaltada, insultuosa, ofensiva para pessoas e instituições, promovendo uma generalização da falta de respeito pela diferença.

É preciso cuidado para não abrir o caminho ao monstro, que já espreita com a sua cabeça de fora. Acima de tudo, qualquer pessoa merece respeito. E a política merece respeito, porque é dela que depende a melhoria da vida de cada pessoa em sociedade. Pensar o contrário é não ter a noção do que é verdadeiramente essencial. A política, como as lutas de que as democracias vivem e precisam, tem de ser feita com correção e ética e, acima de tudo, no respeito pela diversidade incontornável das nossas sociedades, que são o seu nervo e a sua alma.

Deputado do PS

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA