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Os portugueses nas eleições locais no Luxemburgo

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São sobretudo oriundos das regiões norte e centro os portugueses que a partir dos anos 60 começaram a chegar ao Luxemburgo. Entretanto, muito mudou na composição da comunidade, no seu estatuto económico e social, no nível de qualificações, na sua capacidade de afirmação no país, na qualidade e profundidade das relações bilaterais entre Portugal e o Luxemburgo. O Luxemburgo, que é o país mais rico do mundo, é muito especial para Portugal. Os portugueses são a maior comunidade estrangeira no Grão-Ducado e estão hoje presentes em todos os setores de atividade através das segundas e terceiras gerações e dos perto de 20 mil binacionais, criando uma nova realidade política e sociológica. São bem considerados, porque estabeleceram uma importante relação de confiança e constituem uma força de trabalho fundamental para a economia do país e para o dinamismo da sociedade. Além disso, os laços históricos também nos favorecerem, porque o próprio Grão-Duque se afirma como lusodescendente, pelo casamento de Maria Ana de Bragança com Guilherme IV, em 1893.

Isto não significa, no entanto, que não existam tensões, o que deve ser visto à luz de um país onde 47% da população é estrangeira. Com efeito, sem contar com os binacionais, os portugueses são cerca de 16% do total dos 650 mil habitantes e representam perto de 20% da população ativa e 25% da população escolar nos primeiros anos, o que constitui uma realidade muito particular. Aliás, a educação é um dos domínios onde se verifica alguma tensão devido à seletividade do ensino, mas onde também os cursos de Português também estão cada vez mais presentes.

Os portugueses são muito trabalhadores, mas discretos e pouco reivindicativos por natureza e mesmo relativamente pouco participativos nas atividades cívicas e políticas. Mas aos poucos vão-se tornando naturalmente mais ativos, pela força da sua presença. E, por haver elevadas percentagens de portugueses em cada comuna, em alguns casos superiores a 40%, os partidos políticos acabaram por compreender que os portugueses representam uma força incontornável para poderem ganhar eleições. E é por isso que nas próximas eleições locais de 11 de junho serão relativamente poucos os partidos e as comunas que não têm candidatos portugueses nas listas. Esta é uma realidade nova e que terá certamente repercussões no futuro, razão pela qual as próximas eleições representam um ponto de viragem quanto à presença portuguesa no Grão-Ducado, porque a integração política é sempre a mais profunda em qualquer sociedade.

Estas eleições são também uma forma de reconhecimento da importância dos portugueses no Grão-Ducado, mesmo que um pouco pela força das circunstâncias, mas que vai acelerar e consolidar uma mudança positiva na perceção sobre os portugueses e sobre Portugal. Os sinais mais evidentes desta mudança ficaram já bem à vista aquando da última visita oficial do Grão-Duque Henry a Portugal, em maio de 2022, que se fez acompanhar pela maior delegação de sempre ao nosso país, com cerca de 170 representantes de todos os setores de atividade, na qual estavam muitos lusodescendentes e um empenho evidente em aprofundar a cooperação bilateral num conjunto alargado de novos domínios, alguns de elevada componente tecnológica Esta transformação vai certamente agora acentuar-se com a maior participação de sempre de candidatos portugueses a nível local, uma realidade singular que merece a maior atenção em termos diplomáticos, devido ao aumento do potencial de cooperação que implica. Mas também é absolutamente fundamental que os portugueses no Grão-Ducado saibam estar à altura deste novo contexto, participando no dia das eleições, retribuindo assim a abertura dos partidos políticos e pelas novas oportunidades que isso proporciona. É uma questão de reciprocidade e de reconhecimento. Fazendo-o, estarão também a honrar Portugal e a excelência da relação entre os dois países.

Paulo Pisco, deputado do PS

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