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O revolver poético de Sérgio Almeida

O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Revolver»?

Talvez a assunção de uma voz poética que sempre manifestei alguma relutância em expressar. Embora “Revolver” seja o meu quarto livro de poesia, as minhas incursões anteriores nasceram de impulsos exteriores, ou seja, resultaram de convites esporádicos para escrever poesia, como acontecia quando o editor José da Cruz Santos me convidava para participar numa determinada colectânea ou escrevia para o colectivo de poesia e performance de que faço parte, o Sindicato do Credo. Não por acaso, o meu anterior livro de poesia, que reuniu poemas de juventude e textos de “Como ficar louco e gostar disso” e “Ob-dejectos”, tinha por título “Periferia”. Apesar de ser um leitor permanente deste género, ou talvez por via disso, sempre vi a poesia como um território sagrado e os poetas como uma espécie de alquimistas da palavra. Essa reverência mantém-se, em parte, mas o que mudou de então para cá foi a convicção de que a poesia me permite uma liberdade insuperável. Como escreveu o editor da Guerra e Paz, Manuel S. Fonseca, nada é estranho à minha poesia. Procuro incorporar na minha escrita tudo quanto vejo, sinto e penso.

Qual a ideia que esteve na origem deste livro?

O recolhimento provocado pela pandemia e a perda de um familiar próximo foram factores decisivos. É um livro sobre o papel das memórias no nosso quotidiano e a forma como “o passado é uma arma carregada de memórias / que empunhamos quando / o presente e o futuro se interpõem / entre nós e a felicidade”. A ambiguidade no título fez com que a maioria dos leitores, numa primeira análise, o treslesse de imediato como sinónimo de revólver ou arma, o que, não sendo exacto, nem sequer é algo inteiramente afastado, como se depreende pelo excerto de cima. Apesar de fortemente habitado pelas memórias e pelo espectro da morte, o livro convoca também outros estados de alma menos carregados, seja a ironia, a sátira ou uma espécie de comunhão interior com o que nos rodeia.

Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?

Quero voltar à poesia muito em breve, mas antes disso tenho que terminar ainda um livro para crianças que “devo” à minha filha mais nova e, logo de seguida, pretendo retomar algumas histórias protagonizadas pelo detective literário Felisberto Urbano da Conceição – ou simplesmente FUC -, personagem presente nos meus dois primeiros livros de ficção, em relação à qual o Miguel Real afirmou numa crónica ser a criação mais delirante da literatura portuguesa deste século.
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Revolver de Sérgio Almeida

Mais informação em www.novoslivros.pt

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