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O querido mês de agosto

© Luís Cruz / BOM DIA

“O querido mês de agosto” está indissociavelmente ligado aos nossos compatriotas residentes no estrangeiro, a quem muita gente ainda chama “emigrantes”, sem se darem conta da carga negativa que o termo comporta. Mas revela a profunda relação afetiva que os liga às origens, a saudade que agita o coração de quem finalmente regressa mais um ano. Chega o mês de agosto e são aos milhares a atravessar a fronteira, vindos de França, do Luxemburgo, da Suíça ou da Alemanha. O mar de matrículas estrangeiras que enche o país de norte a sul não deixa quaisquer dúvidas.

Mesmo que desde o ano passado tenha ficado concluída a A25 que liga a Espanha a Portugal em autoestrada, a fronteira física de Vilar Formoso ficará sempre como um grande símbolo da chegada e da passagem, da emoção do reencontro com Portugal, do enfim em casa. Foi por ali que há décadas milhares de portugueses saíram e é por ali que agora regressam anualmente. Tem um grande significado.

E, por isso, também se repete todos os anos o ritual de deputados, membros do Governo e associações que se deslocam à fronteira para dar as boas-vindas aos compatriotas, com alguns conselhos à mistura sobre segurança rodoviária e prevenção de incêndios. Mas este ritual, não deixa de ser também uma forma de reconhecimento da importância que os residentes no estrangeiro têm para Portugal.

Eles são a alma de milhares de freguesias, concelhos e distritos do país durante o verão. De regiões despovoadas, desvitalizadas, algumas quase à beira da extinção. E os residentes no estrangeiro chegam e animam os lugares, participam das festas, duplicando, triplicando ou mesmo quadruplicando a população que têm durante o ano. Por isso, a vinda dos seus concidadãos, com a sua energia e alegria, é ansiada ao longo de todo o ano. De repente, o comércio anima, os amigos e familiares reencontram-se, os lugares ganham vida.

Apesar destas evidências, muitos desses lugares muito marcados pela emigração nem por isso no resto do ano realizam grandes iniciativas que reforcem os laços com aqueles que vivem no estrangeiro, o que é incompreensível. Então se os emigrantes são tão importantes para cada terra, como se pode compreender que as freguesias e as câmaras não tenham, salvo poucas exceções, iniciativas que reconheçam a sua importância, serviços municipais adequados às suas necessidades ou programas que estreitem laços. Algo que seria fundamental para reforçar esta ligação era realizar o mapeamento dos que vivem no estrangeiro, como forma de estabelecer uma interação que seria muito importante para ambas as partes, mas que infelizmente nenhuma ou quase nenhuma freguesia ou município fazem.

Os portugueses residentes no estrangeiro investem, mandam dinheiro para familiares, apoiam iniciativas locais e as instituições sociais, renovam casas e ajudam à restauração de património, promovem geminações e estão sempre presentes a manifestar solidariedade sempre que há uma tragédia, como quando há incêndios ou cheias. E que um dia poderão regressar e são fundamentais para o repovoamento. Como se pode justificar tamanha falta de iniciativa?

O mês de agosto fica sempre indelevelmente marcado pelo regresso dos residentes no estrangeiro, os ausentes mais presentes do nosso país, pelo que a simples análise cuidada deste fenómeno deveria ser suficiente para compreendermos melhor que nunca nos podemos esquecer deles, que é sempre possível fazer mais e melhor em cada freguesia, em cada concelho, em cada distrito, no país.

Paulo Pisco

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