Na adolescência viajei por terras estranhas. Comprei casa, e casei. Nasceu uma menina. Minha mulher era dona de casa. Trabalhei para sustentar família e a filha estudar.
A casa degradou-se. As paredes ganharam humidade; o telhado deixou cair pingas, se a chuva apertava; as caleiras rotas, jorravam em catadupas. Resolvi fazer obras.
Após o casamento, nunca fui à Serra da Estrela, nem veraneie no Algarve; só realizei duas escapadelas, por um dia, a Espanha. Criei pé-de-meia.
Como disse restaurei a casa. A moradia que comprei em solteiro, transformou-se num lar moderno, confortável e bonito.
As obras duraram três meses. No final, vizinhos e amigos perguntaram-me: se fui bafejado pela sorte! – Lotaria ou Euromilhões. Ninguém pensou que era o fruto de quarenta anos de trabalho (incluindo serviço militar) apenas afirmavam que estava rico!
Durante as obras entabulei conversa com o encarregado. Entre outros assuntos “explicou-me” a razão por que precisávamos de imigrantes
No parecer do bom homem, que se intitulava “Mestre”, e que mais tarde emigrou para a Bélgica – na esperança de vir a estabelecer-se, em Portugal, – a imigração é devido a facilidade de estudar:
– “Trabalhei – disse o “oficial” – desde os catorze anos; mas aos doze já ajudava o paizinho nos biscatos. Aprendi a “arte” e cheguei a “Mestre”; mas ganho pouco mais que o aprendiz! A empresa só sobe o salário mínimo!… Dizem que é de lei!
– “Ora diga-me o senhor: na idade deste moço – apontava para o aprendiz, – já alisava paredes, fazia canalizações, assentava mosaicos e azulejava…. Agora este rapaz nada sabe fazer…nem massa!… Conhece inglês e algum alemão, que aprendeu quando andava por lá… Os rapazes de agora têm vergonha desta profissão. Envergonham-se de ver colegas doutores e terem que trabalhar para eles. Preferem emigrar…
– ”Outrora eram os nossos que partiam com a terceira ou quarta classe, para fazerem o que os franceses e alemães tinham vergonha de fazerem; agora são os africanos, asiáticos e os “americanos” que chegam para executarem o que os nossos não querem…”
Não comentei, nem comento. Registo.
Humberto Pinho da Silva