A minha mãe, que tem 77 anos, teve hoje de telefonar a um serviço médico porque não se sentia bem. Eu estava ao lado dela e podia ouvir a conversa. A minha mãe não se sentia bem (nada de grave, mas eu convenci-a a pedir assistência médica pelo sim pelo não) e ela queria simplesmente pedir que alguém viesse vê-la.
A minha mãe é estrangeira. O seu sotaque dominicano não é normalmente reconhecível como tal, sendo que geralmente a tomam por brasileira ou angolana.
A chamada durou vários penosos minutos, em que a minha mãe tentava cumprir tudo o que a fulana do outro lado lhe pedia, sendo que a dita fulana não só foi embirrenta como a estava a torturar com um calvário de observações com maus modos. No momento em que a ouvi distintamente dizer “assim não pode ser, já lhe pedi isto três vezes”, seguido de uma risada de desprezo, peguei no telefone, tratei eu do assunto e pus a fulana no sítio.
Curiosamente, com o meu sotaque português já a fulana piou mais fino.
Quem ainda apregoa que não há racismo em Portugal, devia ser obrigado a conviver com estrangeiros (não os de países ricos, os outros) e assistir à maneira infame como são tratados todos os dias, de todos os quadrantes possíveis, e que nos deveria cobrir a todos de vergonha.
Irra.
Inês Thomas Almeida