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Miroslav

Deu-me o braço, enquanto passeávamos no mercado de Karlova Ves, e, caminhando os dois a passo lento por entre as bancas e pessoas, disse-me no mais polido português:

“Sabes Mario, para nós, intelectuais, era difícil: havia livros que não podíamos ler e conversas que não podíamos ter publicamente. Bem… na verdade tínhamos acesso a quase tudo, quase todas as semanas eu ia a Viena e trazia livros na mala – eles sabiam bem, e nunca disseram nada.

Mas esta gente…” – disse apontando com a nariz para a massa que nos rodeava – “esta gente quer coisas simples: que o filho consiga ir para a universidade, ir de férias uma semana por ano, beber uma cerveja ao fim do dia de trabalho.”

Parou, parámos, com os olhos fixos no nada olhou para bem dentro de si. Cerrou a mão em torno da minha.

“Perderam tudo. Esta gente perdeu tudo: 80% das pessoas estavam tão melhor antes.”

O Miroslav terá agora perto de 80 anos. Por causa de quem era e do que dizia, e apesar de ter as melhores notas do seu ano, não conseguiu emprego depois do mestrado e não teve outra alternativa senão o exército. Fez doutoramento enquanto militar. Aprendeu português sozinho, para poder treinar os exércitos independentistas das ex-colónias portuguesas. Quando terminou o “exílio” militar foi convidado a criar a cadeira de português na universidade de Bratislava.

 

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