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Miguel Torga – in memoriam

Depois de escrever Ansiedade, Os Bichos, Contos da Montanha, Novos Contos da Montanha… a Criação do Mundo e o “Reino Maravilhoso”, Vindima, diários, o “Senhor Ventura”, se se pode tombar, Torga apenas se inclinou perante a vida.

Miguel Torga como o melhor dos bons transmontanos, não quebrou. Inclinou-se em dezassete de Janeiro de Mil Novecentos e Noventa e Cinco e assim permanecerá eternamente.

Adolfo Correia da Rocha, o médico otorrinolaringologista, nasceu no meio das urzes, em São Martinho de Anta, Sabrosa, em 12 de Agosto de 1907 e teve uma infância complicada que não é sequer agradável transcrever.

Criança foi sozinho ao Brasil. Voltou para estudar Medicina e encher-nos a vida com literatura diversa e variada, desde a diarística, poesia, contos, entre romances e teatro.

O homem de olhos que metem medo, digo eu, que o senti, tomou por pseudónimo literário Miguel, por via da sua admiração a Miguel Cervantes e a Miguel Unamuno. – daí se considerar um ibérico do mundo, e Torga serviu para mostrar as suas raízes ao telúrico, à sua terra natal, por via das urzes também conhecidas por torgas.

Homem de difícil acesso, mas sempre atento e compenetrado, fulminando o que o rodeava, no seu trajecto de casa ao gabinete em Coimbra, onde cedo se viria a instalar até se inclinar, no Largo da Portagem, frente ao Rio Mondego, que ficava diante as janelas, criou para o mundo um reino inimaginável senão por ele que designa de maravilhoso.

Ali me recebeu a meu pedido porque iria sofrer mais uma intervenção cirúrgica e ele não caminhava para novo, eu que desejava conhecê-lo desde criança… tenho a anuência em correio manuscrito!

Torga foi muito cedo proposto várias vezes para o Prémio Nobel, ficando a Academia Sueca a dever-lho eternamente.

Quem perdeu foi a Academia Sueca por não contar nos seus registos a atribuição do Nobel a Torga.

Com humildade se sugere qualquer leitura de qualquer tipo de literatura de Torga, porque é fácil e envolvente. Cada um dos possíveis leitores não se sentirá molestado ao lê-lo porque encontra o que lhe agrada.

Se não tiver muita apetência pela leitura, em Torga encontrará com certeza algo que cativará e estimula a prática da leitura.

Aquando a sua curvatura, eu não soube onde ir. Se a Coimbra, se a São Martinho de Anta, em Trás-os-Montes, para me curvar ante o corpo dele. Chovia muito. Era o mundo a chorá-lo.
Fiquei em casa, doente. Por sinal.

Jaz Adolfo Correia da Rocha mais a sua esposa, Andrée Crabbé, sob uma pedra no cemitério de São Martinho de Anta, à sombra de uma torga.

(Não pratico deliberadamente o chamado acordo ortográfico)

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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