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Mãããe! Onde está?

Estou sempre com o pensamento de que está
À porta da sala. Sentada. Como era hábito.
Tenho sempre essa sugestão.
Mas nem sempre lhe oiço os passos,
O tossir, o falar
E até o ressonar.
Num repente perco toda a noção.
Mas não a memória.
A noção é que não sei de si,
Dos murmúrios, dos barulhos, do cumprimentar
Ou do responder aos cumprimentos de quem passa.
Mesmo de quem fica a falar-lhe um bocadinho!
A memória, lembra-me que tudo isso já não acontece.
São apenas impressões, pelos decénios.
É apenas o hábito.
Mãe!
E porque não está na cadeira junto à porta?
Na sacada?
E até na cama, o tossir ou o mexer?
Ou até recomendar-me que apague a luz do meu quarto?
Lembro que quando eu era pequenito, me recomendava, além da luz,
Que dormisse. “Se não, tanto ler-tanto ler;
Tanto escrever, tanto escrever, te cansa a cabeça e os olhos”.
Em tudo isso, minha mãe, pode ter tido razão. Haverá tido,
Até.
Mas o que na realidade me cansa
É não ouvi-la tossir, do seu quarto, agora à noite,
Enquanto rezava um tercinho,
Ou se aconchegava para adormecer
Porque manhã cedo – oh como a invejo (também por isso, mãe) – levantava
Para mais um dia igual aos outros. Pelo menos a tantos outros.
Cansado, cansado de não a ouvir, de não ver onde está,
Estará a mãe a ver-me?
Vê que ainda lhe não obedeço?
Não deito cedo nem apago a luz
E não deixo de ler.
Quero aprender onde encontrá-la
Minha doce mãe.
Mário Adão Magalhães  014/09/29
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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