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“Lisboa tem de mudar perceção da comunidade portuguesa na África do Sul”

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O jurista e analista sul-africano André Thomausahen considera que os portugueses no país representam um capital humano decisivo para Portugal aceder a oportunidades de investimentos num mercado industrial de eletricidade que é “chave” para o continente africano.

Em entrevista à Lusa, o catedrático jubilado da Universidade da África do Sul (Unisa), considerou que “o mais importante objetivo” da visita do Presidente Marcelo à África do Sul deveria ser “mudar profundamente a perceção em Lisboa daquilo que é a comunidade portuguesa na África do Sul”.

“Não é um número de uns poucos cem mil portadores de passaportes portugueses que num futuro pouco distante se tornarão num pesadelo de mais uma vaga de ‘retornados’”, frisou.

“São um capital humano e de acesso a enormes oportunidades de investimentos de alta qualidade industrial num país industrial chave para todo o continente africano. Podem constituir a base para o cumprimento da missão histórica de Portugal para constituir a ponte do entendimento e do desenvolvimento entre a Europa e a África”, adiantou.

Pretória sublinhou este mês que as relações bilaterais com Portugal “mantêm-se fortes”, acrescentando que os dois países cooperam em vários setores, nomeadamente nos setores do “ensino básico e superior, ciência e tecnologia, defesa, bem como comércio e investimento”.

Ao nível das relações comerciais, Pretória indicou que as exportações sul-africanas, em 2021, atingiram aproximadamente 2,8 mil milhões de rands (134,3 milhões de euros). Já as importações de Portugal ascenderam cerca de 4,6 mil milhões de rands (220,6 milhões de euros) no mesmo ano.

“A comunidade portuguesa firmemente radicada na África do Sul apresenta uma oportunidade económica única para Portugal na medida em que oferece acesso privilegiado aos investimentos e enormes projetos de transição energética num mercado de 40 GW de energia elétrica”, considerou André Thomashausen, à Lusa.

Segundo o analista, esta indústria está em transição acelerada da geração centralizada para a geração descentralizada e ainda da geração baseada no carvão e combustíveis líquidos para uma futura geração com fontes de energia renováveis.

“No entanto não existem nem interesse nem tentativas de participação portuguesas” e “Portugal é mundialmente um país modelo das energias renováveis”, frisou.

Na ótica do analista, as perspetivas futuras para a “amizade” e o “bom relacionamento” entre a África do Sul de Nelson Mandela e o Portugal do 25 de abril continuam a ser “boas”.

“Os setores industriais da construção civil, engenharia elétrica, indústrias pesadas, e agrícolas de produtos frescos, gado e da pesca, desde sempre fomentados e brilhantemente bem geridos pela comunidade dos portugueses e seus descendentes, acolhidos ao longo de séculos na África do Sul, constituem a comunidade Europeia mais produtiva e leal neste país. São notáveis pioneiros do desenvolvimento e do progresso, os Portugueses e descendentes seus”, explicou.

“Na realidade, a África do Sul “nova” pós-1994 valoriza incondicionalmente os inúmeros pequenos e grandes empresários portugueses que se identificam muito mais com o país de que os “grandes” investidores estrangeiros, normalmente condicionados pela conjuntura do momento duma oportunidade”, apontou o analista sul-africano.

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