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Lisboa condena perseguição aos lusodescendentes no Myanmar

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A comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros aprovou por unanimidade um voto de condenação das atrocidades cometidas pela junta militar de Myanmar contra a comunidade lusodescendente Bayingyi.

“No último mês de maio, a junta militar de Myanmar [antiga Birmânia] iniciou uma ofensiva sobre o norte do país, tendo como um dos seus alvos a minoria lusodescendente Bayingyi”, lê-se no texto apresentado pelo grupo parlamentar da Iniciativa Liberal (IL) e aprovado hoje por unanimidade na comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

Sob a alegação de “ações antiterroristas, a junta militar tem atacado várias minorias no país desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, que depôs um governo democraticamente eleito e despertou uma onda de protestos e resistência armada no país”.

“Desde então, a escalada de violência em Myanmar tem feito várias vítimas, entre as quais a comunidade lusodescendente no país, que viu muitas das suas aldeias na região do Sagaing arder pela mão do exército”, detalha-se no texto aprovado por unanimidade pelos deputados, em que se citam informações da página na Internet do atual Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta.

No texto apresentado pela IL, acrescenta-se que a ofensiva foi igualmente denunciada em comunicado pela Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD) e é feito um apelo ao Governo português para que adote de forma “urgente” as “diligências necessárias junto da comunidade internacional para promover a pacificação interna do Myanmar e a proteção da minoria Bayingyi”.

O parlamento “condena veementemente os ataques perpetrados contra a comunidade Bayingyi no Myanmar e expressa o seu apoio a todas as iniciativas do Governo e da comunidade internacional no sentido do apuramento e da investigação de eventuais crimes contra a Humanidade e da proteção das minorias históricas do país”, conclui o texto da IL.

No passado dia 03 de junho, em entrevista à agência Lusa, o investigador da história da expansão portuguesa e diretor-geral para a Ásia/Pacífico da (AILD), Joaquim Magalhães de Castro, disse que a comunidade de lusodescendentes em Myanmar existe há mais de 400 anos, resultando de casamentos feitos entre aventureiros portugueses, muitos deles mercenários.

Passaram de soldados a camponeses, ficando-se pelo norte do país e mantendo o culto católico, ao contrário da língua e dos apelidos.

Desde dezembro do ano passado que elementos da junta militar de Myanmar têm atacado as maiores aldeias de bayingyis, afetando “várias dezenas de milhares de pessoas”.

Joaquim Magalhães de Castro, que conhece a região e é autor de vários artigos, livros e documentários sobre estes lusodescendentes, refere que, para eles, Portugal é “um país quase mítico”.

Apenas os padres, que tiveram acesso à educação, é que sabem mais sobre o país e alguns já o visitaram.

Estes lusodescendentes têm sofrido a força com que os militares regressaram ao poder, atacando as minorias, nomeadamente os católicos, pois a igreja católica sempre foi “do contra”, sempre foi pró democracia, por Aung San Suu Kyi”, a ex-líder e Prémio Nobel da Paz (1991), deposta e detida.

Segundo Joaquim Magalhães de Castro, os militares estão de regresso e a utilizar o mesmo ‘modus operandi’, que é “a repressão, sobretudo das etnias, as etnias minoritárias que se rebelam contra este poder, que contesta a junta militar, que é maioritariamente birmanesa”.

Católicos, os lusodescendentes são um alvo dos militares que sentem um “desprezo e desconsideração” pelas minorias, disse o investigador.

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