Outra vez na estrada
com Kerouac no porta-luvas
do Mustang cheio de pó
ganga suja, bota enlameada
e o locutor de rádio que anuncia
tempestade no deserto
baixa de temperatura
noite longa e fria
num descapotável vermelho
em que a matrícula
já não é mais que um rectângulo de lama dura.
Mas há calor humano
sob esta manta de índio
mãos e coxas que se abraçam
vidros embaciados
e depois
gritos extasiados
e um blues em 94.2.
Duas da manhã
na berma do asfalto
werewolf highway
where the sun never shines
e eu insisto em fazer rimes.
A mente dormente
adormece finalmente
nos seios da hitchhiker
aos sons da melodia
que toca na telefonia
que não se apagou.
JLC14101992