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Fusão de culturas pelo palato

“Nunca fui doce… nasci cravo e canela… um toque picante, um toque provocante… e quem quiser que goste assim… nasci com sangue fervente… desejo constante… de fazer o que eu quero… de ser como eu sou…”

Maria Isabel Ribeiro Lopes

Numa simples colherada, uma viagem do Alentejo ao oriente à boleia de uma sericaia, acompanhados pelas ameixas de Elvas, para não perdermos as origens nas terras longínquas do Levante.

Este doce, de origem indiana, foi rapidamente adotado pelas freiras dos conventos de Elvas enriquecendo-o com traços da doçaria conventual.

De textura suave com um toque a canela, fazem deste doce um prazer que consola os sentidos e satisfaz o espírito.

Consta nos documentos datados do ano de 1623, do Convento de Santa Clara de Elvas, que a receita da sericaia fora trazida das partes do Oriente para o Reino, pelo Vice-Rei D. Constantino de Bragança no ano de 1562.

Eis o seguinte excerto desse registo:

“Era coisa tida nas partes do Oriente, tendo provindo de Malaca para Goa, por posse dos Padres Jesuítas, que a fizeram às freiras do Convento de Santa Mónica, as quais desde cedo a muniram, sendo muito apreciada entre as gentes de bem da dita Praça.

Do governo de Goa por D. Constantino, ia esta à sua mesa, sendo de bem e gosto por este tomada. De vinda ao reino e tomando a sua casa na Vila Viçosa, na era de (1)562 a entregou às Irmãs de Santa Clara do Convento das Chagas de Christo da dita Vila, a qual a muniram de modo na sua terra. Viera para esta Casa de Santa Clara de Elvas, no ano de 1584, por obra da nossa admirada Irmã Maria da Purificação, que a passou a munir nesta Casa e desta para as demais da nossa Ordem nas partes do Alentejo.”

A interpretação da receita original

1 litro de leite gordo

14 ovos grandes

350 gr açúcar amarelo

125 gr de farinha de arroz

1 pau de canela

1 limão

Canela quanto baste

Ferve-se o leite com metade da casca do limão e um pau de canela.

Deixa-se arrefecer e retira-se a casca e o pau.

Separam-se as gemas das claras, sendo as primeiras coadas para se lhes remover os folículos, adicionando-as ao leite, juntamente com o açúcar e a farinha. Liga-se tudo muito bem coando-se de seguida para remover eventuais grumos.

Leva-se a lume brando, mexendo sempre, até se obter um creme. Deixa-se arrefecer bem.

À parte, batem-se as claras em castelo, e adiciona-se-lhes a raspa do resto da casca de limão e metade do sumo do mesmo e tornam-se a bater em castelo.

Envolvem-se muito bem as claras batidas no creme, até se obter uma massa fofa, que se vai deitando às colheradas grandes em pratos de barro, previamente untados com manteiga e polvilhados com farinha de arroz.

Polvilha-se com canela em pó abundante até cobrir por completo a massa e leva-se a forno bem quente. Esta está cozida quando apresentar a superfície aberta e quebrada.

Serve-se acompanhado com as magníficas ameixas de Elvas.

 Dévora Cortinhal

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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