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Fotos do Porto de 1977 em exposição em Nova Iorque

 A exposição “Pedagogia das ruas: Porto 1977”, inaugurada na quarta-feira em Nova Iorque, com temas de aprendizagem, comunidade e arte, é “perfeita” para a galeria universitária Mishkin, na cidade, considera a diretora Alaina Feldman.

A exposição sobre um projeto da artista Elvira Leite, no Porto, está em Nova Iorque até nove de maio, por contacto entre professoras da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e a diretora da galeria universitária que acolhe a mostra, baseada numa outra realizada no Porto vários anos atrás.

Quarenta anos depois do projeto, realizado em 1977 no bairro da Pena Ventosa, no Porto, as professoras Lúcia Almeida Matos, atual diretora da FBAUP, e Susana Lourenço Marques deram a conhecer a exposição a Alaina Feldman, que considerou tratar-se de um trabalho “único, forte, bonito e político”.

A diretora da galeria nova-iorquina considera que é muito importante haver trocas com universidades de outros países, um ponto positivo que se junta aos temas da exposição “Porto 1977” – a pedagogia, a aprendizagem e a arte.

“É perfeito para este tipo de contextos. Somos uma escola, estamos cheios de gente jovem, cheios de pessoas que estão a aprender, que querem fazer algo com as suas comunidades”, disse à Lusa, em Nova Iorque, Alaina Feldman.

A exposição mostra um projeto pessoal, que durou cerca de um ano e meio, da artista Elvira Leite em Pena Ventosa – uma zona próxima à Sé do Porto, onde as casas eram degradadas e sobre-habitadas, o que fazia as crianças saírem para a rua para brincarem e até para fazerem trabalhos de casa.

Na primeira fase do projeto, a artista usou a fotografia em preto e branco como um meio de comunicação com a comunidade, uma forma de aproximação às famílias, para poder ganhar a sua confiança, explicou à Lusa uma das curadoras da exposição, Lúcia Almeida Matos.

É nestas fotografias, expostas em Nova Iorque, que se vê uma menina deitada no chão de granito, a escrever numa folha de papel, os seus trabalhos de casa. Noutra, é um rapaz que está sentado numas escadas, ao ar livre, com papel e caneta.

O projeto seguiu da observação para o envolvimento das crianças em atividades lúdico-educativas, com ajuda de professores, e com inclusão de toda a comunidade da Pena Ventosa.

“Todas as quartas e sábados, se não chovesse” – explicou Lúcia Matos – a artista e professora do Liceu Luís de Freitas ia ao bairro com materiais de trabalhos manuais no carro, com crianças a participarem, recolhendo esses materiais e para os usarem nas suas criações.

Alaina Feldman considerou, na inauguração da exposição em Nova Iorque, que Elvira Leite foi precursora daquilo que hoje é chamado de “prática social”, uma forma de arte sobre as relações interpessoais, “especificamente sobre a relação entre os artistas e as suas comunidades”.

Começaram pelos desenhos a giz, nas pedras e no chão, passando para atividades que “estavam mesmo ansiosos por fazer”, como a pintura, com materiais cedidos por lojas que Elvira Leite frequentava.

Na exposição encontram-se fotografias de crianças que escreviam nas folhas de tamanho A3, a pincel e aquarela, “Queremos uma sala para trabalhar” e “Queremos uma sala para estudar”, e onde desenhavam casinhas, denunciando uma necessidade de espaço, que embora tenha sido abordada pelo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), entre 1974 e 1976, se manteve inatendível.

O SAAL, um programa do governo português depois da Revolução de 25 de Abril, só durou dois anos e provocou “revolta e frustração”, disse a diretora da Faculdade de Belas-Artes à Lusa, porque “aquilo que foi possível concretizar através do SAAL foi pouco”.

A exposição conta ainda com fotografias do arquivo do arquiteto Alexandre Alves Costa do tempo do SAAL, quando os projetos eram discutidos no auditório da Escola Superior de Belas-Artes do Porto (atual FBAUP), entre profissionais, estudantes e população.

Susana Lourenço Marques, também curadora da exposição, professora na FBAUP e mestre em fotografia, explicou que o arquivo de fotografias sobre o SAAL “permite definir melhor uma linha cronológica, onde se percebe o fim do SAAL, algumas frustrações pelo fim do programa e fim de expectativas que não foram completamente correspondidas”.

A interrupção do SAAL explica como é que o projeto de Elvira Leite se inicia, por iniciativa pessoal, em interação com as crianças.

“Era a rua o único espaço que tinham”, as crianças, que “pareciam não ter qualquer tipo de atenção”, disse Susana Lourenço Marques, que é da opinião que o trabalho desenvolvido no ano de 1977 em Pena Ventosa é, no fundo, “um método” da Elvira Leite para que “esse estar na rua se desenvolva com uma consciência pedagógica”.

Na visão de Susana Lourenço Marques, a exposição acarreta um “gesto de mudança”, que “fez muito a diferença na vida das crianças”.

A atual diretora da FBAUP, Lúcia Matos, disse que a artista Elvira Leita tinha uma metodologia “quase revolucionária”, baseada em “relações de proximidade com os seus alunos” que a tornou “lendária” no Porto, e que lhe deu “uma quantidade de amigos que é uma coisa extraordinária”.

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