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Eutanásia

Eu, Pedro Guimarães, mortal e não imune a doenças ou circunstâncias que me possam levar à morte e na posse de todas faculdades mentais, declaro que, caso esteja em situação de morte cerebral ou em sofrimento atroz, sem qualquer hipótese de voltar a ter uma vida digna, agradeço a um médico, a um enfermeiro ou a um amigo, me ajude a partir desta vida. E isto é um acto consciente.

Nenhum partido político tem o direito de achar que vai decidir sobre a minha vida ou sobre a minha morte e se o meu sofrimento é ou não, um facto político.

Nenhuma religião tem o direito de decidir sobre o facto de se posso morrer segundo a minha vontade ou segundo a vontade de um Deus que não pronunciou. Acredito que Deus exista mas não acredito num Deus cuja redenção se obtenha através de um sofrimento atroz, sem sentido, onde o sadismo é complementar à percepção e significado de morte. Deus para mim é paz e tranquilidade, nunca maniqueísta e é preferível não entrar nesse campo.

Se Deus é todo-poderoso, isso não invalida que eu tenha os meus direitos e um deles é o do limite à capacidade de sofrimento, o direito de não querer sofrer em vão. Se Deus me deu o livre-arbítrio durante toda a vida, porque é que homens que agem em nome dele, agora arrogam-se que podem retirar a capacidade de decisão e decidirem por mim no momento em que a minha morte se aproxima?

Uns dizem que não é oportuno, outros afirmam que é necessário um referendo, alguns acham que o povo não está devidamente elucidado e há que fazer um debate transversal e alargado. Talvez por outras palavras, todos saibamos o que é a Eutanásia, a Distanásia e a Ortotanásia. Os conceitos, as sensações ou a vida não são uma questão de debates esclarecedores, nem de religião, nem de partidos. Estamos a falar de Direito e nenhuma sociedade tem o tal direito de decidir se a eutanásia é condenável ou não. Tanto mais que todos nós já presenciamos situações de familiares e amigos a definharem de forma atroz e no final dizem “Ok coitadinho, estava a sofrer tanto, foi o melhor para todos”. Mas tinha que aguentar até ao fim, não é?

Normalmente, sempre que o assunto vem à baila, também se fala da uma falta de rede de cuidados paliativos. Pois falta, e depois? Com isso a eutanásia deixará de fazer sentido? Deixará a pessoa de sofrer de forma atroz?

Se eu estiver a sofrer muito, por favor alguém me ajude a “ir desta para melhor”. E no final, faço contas com Deus e sirvo de protector de quem me ajudou.

 

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