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Encarregue ou encarregado?

O verbo encarregar tem apenas um particípio passado (regular). O termo «encarregue» surge incorretamente por analogia com o particípio passado «entregue», do verbo «entregar». Ora, o verbo entregar admite dois particípios passados, um regular (entregado) e o outro irregular (entregue), este último criado no começo da formação da língua portuguesa, mas tal não acontece com o verbo encarregar. Isto ocorre porque são dois verbos diferentes, cujos particípios passados tiveram uma história de formação igualmente diferente.

O normal seria os verbos terem só um particípio passado, com a terminação em -ado ou em -ido –consoante sejam da 1ª ou 2ª/3ª conjugação, respetivamente –, porém, há verbos que apresentam dois particípios passados, um regular e um irregular, geralmente derivado diretamente do latim como cultismo. Refere-se, ainda, o facto de muitos particípios passados irregulares se comportarem com uma
certa autonomia, traduzindo estados e resultados de ações e sendo usados como simples adjetivos ou até como substantivos (por exemplo, limpo, morto, preso), o que não acontece com as formas regulares dos mesmos verbos (limpado, matado, prendido).

O particípio passado regular encarregado tem a particularidade de poder ser usado como adjetivo verbal ou mesmo substantivo (o encarregado da obra), pelo que não se justifica a ocorrência de um termo concorrente, que não possui outro significado.

Desta forma, não se vê qualquer pertinência na validação do termo «encarregue» como particípio passado, mas, apenas, como forma do presente do conjuntivo do verbo «encarregar». Assim, o correto é dizer «O empregado foi encarregado de arrumar a loja.» e não «*O empregado foi encarregue de arrumar a loja.».

Ás de Letras

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