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“Eine Nata und einem Galão, bitte”

O pastel de nata é um monumento nacional, uma deliciosa imagem de marca de Portugal que existe um pouco por todo o mundo, levado pelos portugueses, certamente para se sentirem mais perto de casa. E a verdade é que não há continente onde não exista o pastel de nata, que é uma forma de reconhecer Portugal e a presença portuguesa, que já existia muito antes do então ministro da Economia Álvaro Santos Pereira o considerar, em 2012, um produto de excelência que devia ser mais exportado.

Na realidade, encontram-se pastéis de nata em Paris, em grande quantidade, no Luxemburgo também, em Genebra ou em Londres, Bruxelas, Nova Iorque ou Rio de Janeiro e em tantas dezenas de outras cidades. Mas há uma que merece uma referência especial, que é Hamburgo, a cidade mais portuguesa da Alemanha, onde manifestamente se nota que há muitos alemães que têm paixão por Portugal. Um exemplo disso é a Associação Luso-Hanseática, em que boa parte dos seus membros são alemães e se dedicam a promover Portugal e, acima de tudo, a sua cultura.

Em Hamburgo pedir “eine Nata und einem Galão, bitte” é corrente não apenas nas muitas pastelarias e padarias portuguesas, mas também em muitos cafés, como um hábito que se enraizou e generalizou. O pastel de nata e o galão são hoje um património da cidade e um orgulho para nós, portugueses.

O “bairro português” é um desses locais especiais, com a sua enorme concentração de restaurantes portugueses com nomes sugestivos como Porto, Coimbra, Ó Lisboa, O Marítimo, Sagres, O Farol e tantos mais. Todos juntos uns aos outros e sempre cheios de alemães, porque se tornou uma das zonas turísticas da cidade. Não muito longe está o antigo navio-escola Sagres atracado no porto, agora usado para eventos, com o nome de Rickmer Rickmers e que esteve ao serviço da marinha portuguesa até 1962, depois de ter sido construído na cidade vizinha de Bremerhaven, no final do século XIX. E não muito longe está uma estátua imponente de Vasco da Gama numa das muitas pontes da cidade, ali colocado nos primeiros anos do século XX.

E não podemos esquecer o Gin Sul, a marca mais vendida na Alemanha e exportada para inúmeros países a partir de Altona, que nasceu na Costa Vicentina pela vontade de Stephan Gaarb, que tem um verso de Fernando Pessoa na garrafa e foi criado para meter numa garrafa os aromas de Portugal. E tantas mais evocações de Portugal.

Mas há um estabelecimento que merece uma referência especial, que é a Pastelaria Transmontana, na Rua Schulterblatt, propriedade da dona Emília Carvalho, uma transmontana de fibra, natural de Vila Pouca de Aguiar.

Há muito tempo que eu sabia que em Hamburgo o pastel de nata e o galão eram um verdadeiro fenómeno, mas desconhecia a sua origem. E na sua origem está a dona Emília e o seu falecido marido, que há 33 anos se instalaram na cidade e começaram com a Pastelaria Transmontana para ganhar a vida num lugar minúsculo, a produzir aquela especialidade em pequenas quantidades, mas que aos poucos foi ganhando fama e espalhando-se pela cidade. E assim se generalizou o “eine Nata und einem Galão”, que não há alemão da cidade que não conheça.

Hoje, a Pastelaria Transmontana continua ativa no mesmo sítio de sempre, com muitos empregados portugueses, sempre cheia de clientes alemães, apesar de o espaço pouco mais ter crescido em relação ao início. E com tudo isto a Pastelaria Transmontana não só tem resistido ao tempo e à concorrência, como também deu prestígio à rua e é acarinhada pelos residentes locais, que até a protegem quando existem manifestações, algumas delas bem violentas, que é outra das razões por que a rua é conhecida.

Por isso, conhecer a dona Emília, uma mulher enérgica e dinâmica, que continua a fabricar uns pastéis de nata deliciosos e delicados, foi para mim um enorme motivo de satisfação e orgulho. Devemos-lhe muito pelo que tem feito pela imagem de Portugal.

Paulo Pisco

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