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Diretor do Centro Materno-Infantil do Norte teme “falência geracional”

O diretor do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN) não tem dúvidas de que a abertura de creches ou infantários nas maiores empresas e instituições públicas, como os hospitais, contribuiria bastante para inverter a queda na taxa de natalidade. “Se fosse uma empresa, Portugal estaria em falência técnica”, garante.

Caldas Afonso, que continua a exercer Pediatria, deixa claro que a baixa de natalidade nada tem a ver com questões de infertilidade, havendo razões sociais e culturais que a explicam. E fala em “mudança brutal de paradigma” quando sublinha que, em Portugal, “no espaço de uma década, a primeira gravidez da mulher passou dos 21 para os 34 anos”. No seu entender, há que “identificar e quantificar” as razões que explicam esta situação.

A natalidade em Portugal será, aliás, o tema de abertura do CMIN Summit 2019, reunião promovida pelo Centro Materno-Infantil do Norte que acontece pelo terceiro ano consecutivo. Agendado para os próximos dias 5 e 6 de julho, o evento decorrerá no auditório do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Dando continuidade à alteração concretizada na edição do ano passado, o programa da reunião subdivide-se em três áreas, que decorrem em simultâneo – dirigidas, separadamente, à Pediatria, à Obstetrícia e à Enfermagem –, mas a sua parte inicial é comum e “aberta à sociedade”.

O diretor do CMIN diz que “a clara inversão da pirâmide geracional é um problema muito premente e preocupante”, recordando que desde maio de 2015 que a população abaixo dos 5 anos é inferior à que se encontra acima dos 65. Daí que não hesite em falar de “insolvência geracional”, desde logo porque o défice permanente de portugueses ativos compromete a sustentabilidade do suporte social dos mais idosos.

Questionado sobre o que faria para aumentar a natalidade, Caldas Afonso responde que procuraria, por exemplo, promover a qualidade de vida de quem trabalha. “Não percebo como é que uma instituição que tenha mais de 100 funcionários não possa ter uma creche ou um infantário. Não tenho dúvidas nenhumas de que isso iria diminuir a taxa de absentismo, muito alta nos serviços de saúde, o que faria com que as pessoas estivessem bastante mais disponíveis para ter filhos”, diz.

“Nós sabemos que, hoje em dia, há um número significativo de portugueses para quem ter um segundo filho significa entrar numa espiral de pobreza. Portanto, as pessoas têm que sentir que ter um filho não vai afetar a sua qualidade de vida diária”, considera Caldas Afonso.

Com uma percentagem de profissionais do sexo feminino superior a 70%, o Centro Materno-Infantil do Norte integra o Centro Hospitalar Universitário do Porto, que contabiliza cerca de 4500 funcionários. A abertura do infantário construído no espaço fronteiro à entrada do CMIN – abertura essa dependente de um processo burocrático que aguarda finalização — constituiria, assim, uma mais-valia significativa, desde logo, para quem trabalha no CHUP.

“Tanto aqui como na generalidade das empresas e instituições, grande parte dos profissionais encontra-se em idade ativa em termos de fertilidade, sendo muitas vezes um drama arranjar um sítio para deixar os filhos enquanto trabalham”, salienta Caldas Afonso, preocupado com o facto de as previsões atuais indicarem que em 2050 a população portuguesa não deverá ultrapassar os 8 milhões de pessoas.

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