Davos 2025: entre Trump e a IA, a disrupção está servida

À medida que o Fórum Económico Mundial de 2025 se desenrola em Davos, dois temas dominam as conversas nos corredores gelados dos Alpes suíços: a posse de Donald Trump para um segundo mandato presidencial e os avanços vertiginosos na Inteligência Artificial (IA). A interseção destas duas forças promete redefinir o panorama tecnológico e político global, levantando questões sobre inovação, regulamentação e poder geopolítico.
A ascensão de Trump e a desregulamentação tecnológica
Com a sua reeleição, Donald Trump sinalizou uma mudança significativa na abordagem dos Estados Unidos face à IA. Uma das suas primeiras ações executivas foi revogar a ordem de 2023 do presidente Joe Biden, que exigia que as empresas partilhassem informações sobre o desenvolvimento de modelos avançados de IA com o governo. Esta medida, vista por muitos como um alívio regulatório, foi recebida com entusiasmo por gigantes tecnológicos como a Google, cujo valor de mercado subiu 1,3% após o anúncio.
Além disso, Trump anunciou uma parceria estratégica entre a OpenAI, Oracle e SoftBank, denominada Stargate, comprometendo-se a investir até 500 mil milhões de dólares em infraestruturas para o desenvolvimento de IA. Este investimento destina-se à construção de centros de dados e centrais elétricas essenciais para o crescimento da IA, com o Texas a ser o ponto de partida.
A nova aliança entre tecnologia e política
A relação entre Trump e os magnatas da tecnologia evoluiu desde a sua primeira presidência. Figuras proeminentes como Jeff Bezos, Sundar Pichai, Tim Cook, Satya Nadella e Sam Altman expressaram apoio ao segundo mandato de Trump, contrastando com a relutância inicial em 2016. Esta aliança sugere uma expectativa de benefícios mútuos, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento e implementação da IA.
No entanto, esta proximidade levanta questões sobre a influência das grandes empresas tecnológicas nas políticas públicas e o potencial desequilíbrio de poder entre o setor privado e o governo. A desregulamentação pode fomentar a inovação, mas também aumenta os riscos associados à IA, como a disseminação de desinformação e a perpetuação de preconceitos.
Desafios e oportunidades na era da IA
A administração Trump enfrenta o desafio de equilibrar o incentivo à inovação com a necessidade de salvaguardas éticas e de segurança. A revogação de regulamentações pode acelerar o progresso tecnológico, mas sem diretrizes claras, há o perigo de desenvolver sistemas de IA que carecem de transparência e responsabilidade. A nomeação de David Sacks, ex-executivo da PayPal e capitalista de risco de Silicon Valley, como responsável pela IA e criptomoedas, indica uma abordagem pró-mercado, mas também exige vigilância para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem a sociedade como um todo.
Conclusão
A confluência da liderança de Donald Trump e os avanços na Inteligência Artificial coloca o mundo numa encruzilhada crítica. As decisões tomadas nos próximos anos terão implicações duradouras na economia global, na estrutura social e na ordem geopolítica. Enquanto Davos serve de palco para estas discussões, a comunidade internacional deve refletir sobre como navegar nesta nova era de disrupção tecnológica, assegurando que a inovação seja acompanhada de responsabilidade e equidade.
Rui Duarte
O autor deste artigo participou em Davos na conferência cujo cartaz pode ser visto aqui:
