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Comunicação e Ciência: preparados para a descolagem?

Em 2017, enquanto cientista já com 14 anos de experiência, tomei conhecimento do Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2017-2020.

Este Plano, à semelhança do Plano Nacional de Saúde, definiu medidas em 17 áreas de intervenção económica, social e cultural das políticas do Governo.

Que áreas são estas? Pois bem, o mar, o espaço, a biodiversidade, as florestas, a agro-alimentar, a saúde, a indústria, a energia, a economia circular, o trabalho e a robotização, o turismo, as cidades do futuro, a arquitectura, o património cultural, a inclusão social, as competências digitais e a computação avançada.

Este Plano, também à semelhança do Plano Nacional de Saúde, definiu uma série de medidas para 2017, 2018 e 2019 integradas em 14 agendas de investigação e inovação.

Estas medidas articulam-se com todas aquelas 17 áreas de intervenção económica, social e cultural das políticas do Governo.

O objectivo é a consolidação e sofisticação do sistema de ciência e tecnologia português e a respectiva articulação com a economia e com os cidadãos.

Sim, leram bem, com os cidadãos. A ciência é para chegar aos cidadãos e eles também podem ser grandes cientistas. Se têm interesse, posso-vos contar como foi uma experiência que comecei em 2012: ensinar as bases do processo de investigação a leigos de diferentes gerações.

Já na Alemanha, em 2003, tinha estado num projecto a ensinar senhoras do meio rural de diferentes gerações a conduzirem entrevistas semi-estruturadas e gravadas em áudio num projecto de investigação em que se pretendia o empowerment da mulher no meio rural. Este projecto era financiado pela Caritas da Alemanha e coordenado pela Universidade de Freiburg, onde fui investigadora bolseira da DAAD – intercâmbio Portugal-Alemanha: os meus primeiros passos na investigação.

Sempre me fascinou esta ponte entre ciência e cidadãos! E nos vários países onde fiz ciência, tive a sorte de poder sempre fazê-la, a ponte, repito!

Em 2018, enquanto blogger, passei a fazer parte da comunidade de autores do projecto Ciência Viva na Imprensa Regional, uma iniciativa da Ciência Viva que disponibiliza de forma gratuita conteúdos de ciência para 85 jornais regionais.

E deixo-vos umas palavras do coordenador deste projecto – António Piedade – que muito me impressionaram:

“No último estudo relevante e caracterizador da imprensa regional portuguesa, realizado em 2010 pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, ERC, (http://www.erc.pt/documentos/ERCImprensaLocaleRegionalfinal.pdf), é indicado que existia, então, um universo de cerca de cinco milhões de leitores de jornais regionais.

Cinco milhões! Creio que a maior parte de nós não tem consciência da importância e extenso alcance da divulgação de informação efectuada pela imprensa regional. É um jornalismo essencialmente de proximidade, logo um meio que não pode ser ignorado para a divulgação de conteúdos de ciência e tecnologia se as queremos mais próximas dos cidadãos. Mas, dizia-se naquele relatório, a presença de ciência nas edições dos jornais regionais era, em 2010, praticamente inexistente. Se são insuficientes os jornalistas de ciência em Portugal nos meios de comunicação nacionais, na imprensa regional eles são inexistentes.

Tendo em conta esta realidade, a Ciência Viva criou em 2011 o projecto ‘Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva,’ o qual teve início em Agosto desse ano. O objectivo era simples: disponibilizar gratuitamente conteúdos de grande qualidade sobre ciência a jornais regionais que aderissem ao projecto.

E o que é que aconteceu?

Desde então, e até à presente data, o projecto atingiu números interessantes: 85 jornais aderiram (continente e regiões autónomas); 109 investigadores, comunicadores, Gabinetes de Comunicação de Universidades e Institutos de investigação colaboraram; mais de 1200 artigos foram disponibilizados; mais de 6500 artigos foram publicados. Isto significa que os jornais regionais, que aderiram a este projecto, passaram a publicar conteúdos sobre ciência e tecnologia como nunca dantes e de forma regular, em alguns casos diariamente. E, devo acrescentar, que os artigos de ciência estão frequentemente entre os mais lidos, alguns com milhares de visualizações nas edições digitais dos jornais, o que mostra claramente o interesse dos leitores por assuntos relacionados com a ciência. Aliás, deixem-me dizer-vos um número que a mim me impressiona: dos 85 jornais regionais de todo o país que participam neste projecto, 26 criaram uma secção de ciência. Desses, 21 têm edições digitais com atualizações diárias nas quais é possível monitorizar o número de visualizações de cada artigo. Em 2017, os artigos de ciência publicados na globalidade por esses jornais tiveram cerca de um milhão e quatrocentas mil visualizações. Este número não pode ser ignorado. Aliás, deve ser alvo de estudo.

Os editores dos jornais testemunham com entusiasmo esse interesse por parte dos leitores sobre a ciência e passaram, com fidelidade, a não prescindir deste serviço publico de divulgação científica.

A comunicação de ciência tem presente e futuro na imprensa regional.”

Como ainda noutro dia fui entrevistada por um jornal regional que não conhecia este projecto, aqui deixo o desafio a que todos os jornais regionais façam a sua adesão: http://imprensaregional.cienciaviva.pt/home/inscricao.asp

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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