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Clube português de Waterbury prepara centenário e lamenta falta de juventude

O clube português de Waterbury é um caso de longevidade e sucesso na diáspora lusitana nos Estados Unidos, movimentando mais de um milhão de dólares anuais, mas a falta de “sangue novo” ensombra a preparação do seu centenário.

Num fim de semana normal, passam cerca de 400 pessoas pelo ‘Portuguese Sport Club of Waterbury’, que serve à comunidade do estado de Connecticut os pratos mais típicos da culinária portuguesa sete dias por semana, indicou à Lusa a direção.

Os cerca de mil sócios do clube fundado em 1929 já pensam nas celebrações do centenário, mas o futuro é incerto devido à redução da emigração portuguesa para os Estados Unidos (EUA) e à “falta de interesse da juventude” na programação oferecida, um problema transversal a várias associações e clubes portugueses por todo o país.

Face a esses entraves – e para tentar garantir a sua continuidade -, o clube abriu portas a outras nacionalidades.

“Como não temos novas pessoas a vir, então tivemos que abrir o clube a outras nacionalidades”, explicou à Lusa o presidente do clube, Reinaldo Sousa.

Os mais jovens “já não estão tão envolvidos como nós, mas fazemos tudo o que podemos para continuar”, acrescentou.

Reinaldo Sousa apontou que o clube português de Waterbury “gera para cima de um milhão de dólares” (cerca de um milhão de euros) por ano, um sucesso só possível graças ao trabalho voluntário dos membros da direção e a muito sacrifício pessoal.

“Esta já não é uma casa pequenina, isto é já um negócio e continuamos a ser voluntários (…) Já dá muito trabalho. (…) Nós saímos da nossa terra com um grande orgulho e continuamos”, afirmou Sousa, emocionado.

Quem já presidiu o clube por cinco mandatos e esteve envolvido na sua reestruturação foi Manuel Freitas, a viver nos EUA há 36 anos, que refletiu sobre todo o esforço dedicado a este espaço ao longo das últimas décadas.

“Fizemos muitas obras, com muito sacrifício e trabalho (…) nós tivemos que trabalhar e pôr o nosso tempo aqui. Não podíamos pagar a empregados como estamos a pagar hoje”, contou, admitindo que chegou a trabalhar voluntariamente no clube durante várias madrugadas e a seguir diretamente para o seu trabalho sem dormir.

Contudo, “os nossos filhos não vêm, não querem vir”, disse o luso-americano, observando que os clubes “talvez não tenham certas regalias para atrair” os jovens.

“Gostava de ver este clube continuar por muitos mais anos, mas, nas condições de hoje, não sabemos o que vai acontecer amanhã”, advogou Manuel Freitas, cujas origens remontam a Vila Real.

Segundo o censo de 2020, Waterbury – a segunda maior cidade do Condado de New Haven, e que dista 124 quilómetros de Nova Iorque – tem uma população de cerca de 114 mil habitantes.

O ‘Portuguese Sport Club of Waterbury’ não mantém a localização original. A passagem de uma estrada obrigou à mudança e a comunidade portuguesa colocou mãos à obra, tendo construído um clube de maiores dimensões, com parque de estacionamento, salão de festas, restaurante, bar, escritórios, entre outros.

Maria José Monteiro, de 70 anos e natural de Amarante, foi a primeira mulher a presidir o clube. Olhando para o passado, assumiu à Lusa ter sido “um ano terrível, porque os homens não aceitam muito serem comandados por uma mulher”. Quando questionada sobre a maior dificuldade, respondeu: “fazer os mais velhos mudar de mentalidade”.

“A maior parte dos sócios já são pessoas reformadas, incluindo eu, mas que já não têm um espírito tão aberto como os que chegam agora e os que nascem aqui”, afirmou.

Entre as propostas da septuagenária para atrair a juventude estão a criação de um campo de futebol e de jogos recreativos, mas também incentivos para “ensinar as meninas a fazerem coisas domésticas”, porque “agora ninguém pensa nisso” e “o saber não ocupa lugar, nem que seja enfiar uma agulha”, defendeu.

Maria José não deixou de assinalar a entreajuda que reina nesta comunidade portuguesa, destacando que quando alguma família enfrenta problemas de saúde graves, normalmente é feita uma festa e o dinheiro angariado reverte para as despesas hospitalares – num país em que a “saúde é muito cara”.

Diamantino Oliveira

Um dos membros mais antigos do clube é Diamantino Oliveira, de 81 anos e a viver há 56 nos EUA. É, há nove anos, presidente da assembleia-geral do clube, o qual considera “o melhor de todos”, e não esconde o desejo de conseguir presenciar as celebrações do centenário, em 2029.

Porém, não está otimista em relação ao futuro.

“A emigração praticamente acabou aqui. Antigamente, quase todas as semanas chegavam emigrantes e juntavam-se ao clube. Hoje já não é assim. (…) Praticamente é a velhice que continua aqui a trabalhar e digo uma coisa: tirando o Rancho, a mocidade daqui praticamente acabou”, asseverou.

“Gostaria que houvesse sangue novo para ver se conseguia trazer a mocidade para aqui e que tivesse ideias diferentes das que nós temos”, concluiu Diamantino Oliveira.

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